Lido no Público de 21 de Abril:
«Num artigo publicado em Fevereiro, investigadores chilenos mostram
que os seres humanos e os animais domésticos e pecuários superam em muito os animais
selvagens, que representam 6% da biomassa de mamíferos da Terra.»
Maria Amélia Martins-Loução, “Investir no nosso planeta”, Público 21/04/2023, pág. 27
***
Tem-se investido no planeta, que
consideramos nosso, contudo nem o planeta é nosso (quem somos nós para
nos apropriarmos dele? E, no entanto, é isso que fazemos, vezes sem conta, sem
nos apercebermos que nós é que somos do planeta), nem se tem investido pelo
planeta. Mas muito se investe no planeta: em ranchos e unidades industriais,
unidades agro-pecuárias, criação de cães e gatos, vacas e porcos, construção de
minas e unidades de extracção de combustíveis fósseis. Eucaliptais, palmeirais,
extensos campos de soja, modernas frotas de pesca. O planeta está cheio de
investidores, gestores, empreendedores, visionários do potencial ganho a retirar
do “capital natural” e ecossistémico, neoliberais e “homens do futuro”, para
parafrasear Sloterdijk, aqui.
As palavras “investir”, “gerir”
remetem para o léxico científico económico e empresarial. O “património
natural”, como bem diz a professora, é delapidado, porque os investidores acima
referidos não o veem como tal. Para eles, o “património natural” é “capital
natural”. Um filão a explorar.
Talvez precisemos de uma revolução
no pensamento: deixar de considerar nosso o planeta – a vida que nele habita,
entre a qual nos contamos, e a que estamos a destruir, pertence ao planeta. Talvez
não se trate de gerir o planeta, mas de zelar por ele, impor vastos
espaços onde os cobiçosos gestores não ponham a pata (perdoem-me a expressão
plebeia). Dirão que a determinação desses espaços, livres da acção e do olhar
cobiçoso do capitalista, também passa por uma gestão do espaço. Sim, mas talvez
seja necessário algo mais do que uma simples gestão.
Sem comentários:
Enviar um comentário