domingo, dezembro 10, 2006

Nas margens suburbanas

Viver no subúrbio é viver à margem, sem ser necessariamente um marginal. No subúrbio vive-se à margem da cidade e à margem do campo, mas nunca, isso nunca, à margem da vida, nem à margem do mundo. O subúrbio agora é um lugar de liberdade, mais do que no centro da cidade, porque pertencer ao subúrbio é não pertencer a lugar nenhum e ao mesmo tempo, pertencer ao mundo inteiro. Vive-se na franja, entre a cidade e o campo, entre o país e o mundo e no meio da juventude empreendedora. A capital essa, envelhece e torna-se conservadora, porque sente o futuro escapar-lhe.
O subúrbio emancipa-se, portanto, gradualmente da cidade centro. Já lá vão os tempos em que se ia de visita à velha capital, centro do Império Ultramarino.
Agora é no subúrbio que a vida se agita e fervilha. Na verdade, o subúrbio está cada vez mais independente da cidade centro e quase já não precisa dela.
E a velha "nomenklatura" dos intelectuais da vetusta urbe ainda se julga no centro do mundo, quando mais não é do que uma espécie de tainhas que se acardumam e engordam frente às cloacas do Tejo. As suas memórias, revelam-se quando falam: sempre e ainda o Estado Novo. Mas essas vivências já não pertencem a esta nova geração ainda que nos queiram ancorar àqueles outros tempos. Parece que já não pertencem ao nosso mundo nem ao nosso tempo. Vivem já das suas memórias. Não vivem já do seu futuro. Mas isso são outras histórias.

sábado, dezembro 09, 2006

Os últimos operários do século (2)

Arrastam-se indolentes pela alba,
num mar de sirenes e ventos.
Arrastam o sono e os sonhos,
perdidos logo que o dia avança,
quando os transportes públicos avançam,
quando a vida avança.

Ao som de sirenes indolentes,
clamores fabris, chamadas ao trabalho,
aos gritos, os suburbanos...
avançam e acordam!

Os últimos operários do século.

Oiço o teu grito, manhã!
Oiço o teu grito.
Um grito estridente
de sirenes e ventos.
Anúncios distintos
de novos dias laborais.
Já arrastam o sono pela rua,
os últimos operários do século.

sábado, outubro 21, 2006

Quem fala a seu tempo...

Quem fala a seu tempo, limitando a poucas palavras o espaço de muitas, está menos atreito à censura humana.

Píndaro (Séc. VI-V a.C.), 1ª Ode Pítica

segunda-feira, outubro 02, 2006

A Crise na Educação

O amor dos filhos pelos seus pais tal como a ligação dos homens aos deuses é paralelo ao laço que nos une ao bem e ao que nos é superior. Na verdade, fizeram-lhes o melhor bem que lhes poderiam ter feito, são responsáveis pela sua existência e pela sua criação, e depois pela sua educação.
Aristóteles, Ética a Nicómaco, livro VIII, XII. (Séc. IV a.C.)
Já se disse anteriormente que a grande invenção do século XIX, a escola pública, tinha perdido a capacidade para aproximar as crianças da leitura. Os métodos utilizados para esse propósito, a absurda formação dos professores, a aversão ao trabalho duro, o amor pelos aparelhos electrónicos e os esforços para reproduzir e transformar o mundo exterior ditaram a ruína da educação em todo o Ocidente.
Barzun, Jacques, Da Alvorada à Decadência, 2000
Da dissolução e destruição das normas advém a debilidade, a falta de segurança e até a impossibilidade absoluta de qualquer acção educativa.
Jaeger, Werner, Paidéia, 1936

A actual crise na educação dos jovens reside em primeiro lugar na falência das instituições incumbidas desse papel: a família, a escola, o Estado (e poderemos incluir ainda o Mercado).
Aristóteles, o fundador do Liceu, já há 2400 anos atrás, reconhecia a importância da família, não só na criação dos filhos, mas também na sua educação. Ora a família tradicional desestruturou-se. Já não é o que era. Na maior parte dos casos, ambos os pais trabalham ou não estão presentes, isto quando a família não é monoparental, ou seja, só suportada por um dos pais. A tarefa de educar os filhos por parte da actual família, tornou-se portanto avassaladora. Confia-se agora o papel da educação das crianças a outras instituições, como se estas se pudessem substituir à família. A educação falha porque um dos seus pilares sucumbe, arrastando tudo o resto. Falha a educação, empobrece-se a cultura, dissolvem-se e degradam-se as regras, as normas e os valores. Torna-se impossível ou muito difícil levar a cabo qualquer acção educativa. Está aberto o ciclo da decadência civilizacional.

domingo, outubro 01, 2006

Incursão na Andaluzia. 120 Km/h.

Fervilham os mares e os pomares de amores.

Já se pressentem os laranjais de Sevilha.

O carro galga e avança pelas estradas de Espanha.

Já se pressentem os laranjais de Sevilha.

O teu corpo, num arrepio, mergulha no mar.

Já se pressentem os laranjais de Sevilha.

No oceano do mundo, que não tem fundo.

Já se pressentem os laranjais de Sevilha.

Veleiros trazem especiarias,

Já se pressentem os laranjais de Sevilha.

Ouro, prata e marroquinarias.

Já se pressentem os laranjais de Sevilha!

sábado, setembro 30, 2006

Cada homem, cada Colombo

Cada Colombo tem a sua América,

Sonhada mas não revelada,

Intocada.

Cada homem tem o seu sonho...

Continentes inteiros por alcançar.



Cristóvão Colombo (1451?-1506)

quinta-feira, setembro 28, 2006

Ulisses


O mundo em que se move, é todo o mundo.

O mar para onde alonga o olhar, é todo o mar.

A rota em que navega, são todas as rotas.

Ulísses é a glória do mundo,

A pátria que o amou.

Imorredouro Sul

Enquanto o Bóreas enfuna as velas impelindo a nau para o Sul,
Imorredouro Sul,
As ondas acariciam o casco e a proa.

O mar, afinal morada de todos os deuses,
É também o meu lar.

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