sábado, março 24, 2007

Há uma única maneira convincente de fazer o elogio da Europa: é falar da sua cultura.

Folco Quilici

segunda-feira, março 19, 2007

Das multidões...

29. Os melhores escolhem um só bem em troca de todos os outros, a glória eterna em troca das coisas mortais. A multidão sacia-se como as manadas.

Heraclito, Fragmentos
Com efeito, nada há de mais insensato do que uma multidão inútil, nada há de mais insolente.
Heródoto, Histórias (livro 3º)

domingo, março 18, 2007

Da espuma dos dias...

- Com tudo isso te faço saber, irmão Pança - replicou dom Quixote -, que não há memória que o tempo não acabe nem dor que a morte não consuma.

Cervantes, Dom Quixote
Tudo flui, tudo se apaga, tudo se dissolve no maelstrom do tempo.
Mas apetece responder como César no poema de Alfonso Canales, no seu "Discurso de César às Legiões":
...quando tudo se suma num longo silêncio, e não haja um só sinal para decifrar, TEREI VIVIDO.

Algumas interrogações

Hoje acordei com algumas interrogações:

Poderá um comunista ser um liberal?

Poderá um liberal ser um comunista?

O interesse colectivo não se opõe, a partir de determinado limite, à liberdade individual?

Até que ponto podem coabitar a liberdade e a igualdade?

E o Estado, representante do interesse colectivo, não poderá tornar-se opressor frente ao indivíduo?

Não pode o Estado ser protector sem ser opressor?

E qual é o interesse colectivo?

E quando o interesse colectivo é a liberdade do indivíduo?

sábado, março 03, 2007

Império

Em terceiro lugar, o poder do Império funciona a todos os níveis da ordem social, penetrando até às regiões mais profundas do mundo social. Não se limita a gerir um território e uma população, mas cria também o mundo real que habita. Não se limita a governar as interacções humanas, mas pretende também governar directamente a natureza humana. O objecto do seu poder é a totalidade da vida social e, por isso representa a forma paradigmática do biopoder.
Hardt, Michael; Negri, António (2000), Império, Livros do Brasil, pág. 15
No dia 2 de Março de 2007 jogaram no ring mediático, o poder das multidões contra o poder dos milhões (€). Venceu o Império dos milhões. A "importância" dos milhões em jogo, justificou a opção de serem eles a abrir os telejornais desta paróquia. É preciso criar o "mundo real" que o Império habita. E o "mundo real" é cada vez mais criado nos media - se a notícia não passou na televisão, então não aconteceu, dizem. Neste caso, valorizou-se mais a OPA que a manifestação dos descontentes - a maior desde o fim do Estado Novo. O Império mostrou quem manda. Os media e os seus representantes mostraram de quem são lacaios.

sexta-feira, março 02, 2007

O Império

Mais de 100 000 pessoas manifestaram-se hoje nas ruas de Lisboa e os telejornais abriram todos com a notícia do "Fim da OPA".

Ah! O Império, o Império...

Estamos todos a ser anastesiados pela comunicação social, ou então, estamos todos cegos.

Será que todos portugueses são agora especuladores bolsistas? Será que lhes interessam mais as venturas e desventuras das empresas cotadas na bolsa? Seremos todos accionistas?

domingo, fevereiro 25, 2007

O desenvolvimento enquanto desígnio

Trinta e três anos de democracia decorridos. Trinta e três anos de “Abril”. Estranhamos uma ausência: onde está o desenvolvimento? As promessas de desenvolvimento parecem ter passado de moda. Na verdade, nem parece ser, no momento, conveniente falar dele. A buzzword, mais proferida pelos políticos, agora com todos os soundbites, é a do "crescimento económico". Até a oposição lastima o retrocesso do “crescimento económico”, ao longo destes dois últimos anos. Porém, ninguém questiona o desenvolvimento. Será que todos pensam que o país se desenvolveu? Que já somos desenvolvidos?

O crescimento económico é apenas um meio para se atingir um fim: o desenvolvimento. Mas está a ser considerado pelos nossos políticos como se de um fim se tratasse. O desenvolvimento foi esquecido.

Porque foi abandonado tal conceito nos seus discursos e nas práticas governativas? Por que razão foi abandonado, enquanto desígnio?

Somos levados a pensar que os políticos deixaram de acreditar convictamente no desenvolvimento, porque sentem que são incapazes de promovê-lo ou então, porque são medíocres.
O Professor Simões Lopes, citando Dudley Seers, lembra que “as perguntas a formular acerca do desenvolvimento de um país, de uma região, são simplesmente estas: o que é que vem acontecendo com a pobreza? Com o desemprego? Com as desigualdades? Se os três se têm reduzido (a pobreza, o desemprego, as desigualdades), não pode duvidar-se de que houve desenvolvimento no país ou região em questão.” (1)
Decorridos trinta e três anos desde o 25 de Abril de 1974, período em que governaram principalmente sociais democratas e socialistas (!), nalguns casos com maioria absoluta, questionamo-nos então: como evoluíram no nosso país os indicadores de pobreza, de desemprego, e das desigualdades? As respostas infelizmente apontam para um agravamento. Os indicadores revelam claramente, o aprofundamento das desigualdades (económicas, sociais e territoriais), o aumento do desemprego (e degradação da qualidade do emprego) e o aumento do número de pobres. Basta consultar as estatísticas, contidas nos mais recentes Relatórios de Desenvolvimento Humano da ONU, do Eurostat e de outros organismos internacionais. Decorridos 33 anos, lamentamos dizer: eis o estado a que isto chegou.
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(1) Lopes, Simões (2006), "Encruzilhadas de desenvolvimento: Falácias, dilemas, heresias", Revista Crítica de Ciências Sociais, n.º 75, Outubro 2006, pp. 41-61.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

O neoliberal século XXI e o Mediterrâneo

Sem qualquer nobreza, já não calcorreamos campos distantes, como soldados apartados da terra-mãe. Quentes nos nossos lares, confortáveis nas nossas poltronas, defronte das nossas lareiras, já não temos que lutar pela liberdade. Ela já nos foi oferecida (supostamente) numa bandeja de prata. Estamos agora demasiado acomodados, isolados e engordados, neste neoliberal século XXI. Não temos camaradas de armas com quem beber um copo e sonhar com lares distantes, deixados para trás. Não caminhamos já nas areias dos desertos, no Norte de África, de arma a tiracolo, como noutros tempos. Nem vigiamos o horizonte nas quentes ilhas do Mediterrâneo - esse mar navegado desde tempos imemoriais, por Ulisses, Eneias e outros antigos navegadores. O Mediterrâneo do passado ainda é porém, o dos nossos sonhos, e quem sabe, o do nosso futuro.

Século XX...Século XXI

O meu século XX teve início em 1968, após todas as tempestades do século. As guerras onde os nossos bisavôs se afundaram. O barco vogou após 1968 para águas mais tranquilas, climas quentes, mares tropicais. E hoje, perdidos neste mar, vogamos de ilha em ilha. Perdemos o tempo, ganhamos a vida...

Lassos corpos no convés, ao sol quente dos mares tropicais. Contemplamos o horizonte em busca de um ponto conhecido. O rumo da história trouxe-nos a estes mares nunca antes navegados. E por aqui velejamos, sem bússola e sem rumo. Aguardamos! Pode ser que o vento torne a soprar neste mar paradisíaco.

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