segunda-feira, dezembro 22, 2008

Max Ernst em Málaga

A Virgem Abençoada Castigando o Menino Jesus Perante Três Testemunhas, 1926 - Max Ernst

No Museu Picasso em Málaga, descobrimos outro vulto da arte do século XX. Max Ernst (1891-1976). Em exposição até 01/03/2009, a sua obra integrada na colecção Würth pode ser apreciada nas galerias do museu. Pelas galerias acompanhou-nos a estranheza e o espanto da descoberta. Um louco pintando, não o mundo exterior, mas as paisagens do espírito interior. Pinturas, colagens, esculturas. Uma cabeça monumental dominando uma grande sala, omnipresente: o Big Brother. Gravuras representando figuras semi-humanas, semi-animais. O Espírito da Bastilha: um pequeno homenzinho erigido no cimo de um totem de pedra. A Horda – uma colagem de figuras antropomórficas ameaçadoras. Mas o quadro que mais nos chamou a atenção foi o Século XX ou Versatilidade, pintado em 1961. Há quem veja optimismo no quadro!? Optimismo!? Pintado em 1961, no auge da Guerra Fria e do equilíbrio do terror nuclear por um homem que sofrera na pele duas guerras mundiais (lutou na Primeira tendo recuperado de uma morte clínica e foi enviado para campos de concentração na Segunda), o quadro é a imagem da desolação ou da versatilidade das formas de destruir o mundo: uma descrença total no Homem, o destruidor de mundos. Trata-se na verdade de uma paisagem de escombros fumegantes, sobre o vermelho vivo de sangue, e um azul frio de morte. Um apocalipse. Não foi o século XX, um século de campos de batalha sem fim, de cidades arrasadas e cogumelos atómicos? Que futuro se pressentia para o século XX, em 1961?

O Século XX ou Versatilidade não o encontrámos na Internet. Fica a imagem da Virgem Abençoada Castigando o Menino Jesus Perante Três Testemunhas (que se encontra em exibição no The Metropolitan Museum of Art).

domingo, dezembro 21, 2008

Málaga em Dezembro

Na margem do Mediterrâneo, Málaga é uma cidade digna de ser visitada em Dezembro, pelas suas gentes, pela sua alegria e pelo seu calor. Málaga é uma cidade viva. À noite o seu centro anima-se de jovens e famílias que se passeiam pelas calles iluminadas e enfeitadas (as ruas nunca são abandonadas ao frio e ao silêncio). As jovens espanholas embelezam-se e perfumam-se. Caminham animadamente em direcção a uma qualquer fiesta. No centro da cidade destaca-se a avenida Marqués de Larios (uma espécie de Rua Augusta, mas ao contrário desta, a multidão invade-a quando a noite se instala). O centro histórico é também constituído por numerosas pequenas praças e ruas estreitas, polvilhadas de bodegas, onde se comem tapas, bebe-se cerveja e convive-se animadamente. Os mais devotos formam filas à entrada das igrejas e da catedral, para assistirem a rituais nocturnos. A cidade respira o ar cálido do Mediterrâneo por todos os poros.

Mas com o aprofundar da noite, resistem nas ruas hordas ruidosas de adolescentes que, organizadamente, se foram embriagando. A vozearia e a gritaria é intensa na Plaza da Marina, fronteira ao porto, e dura até ao raiar da alba.

sábado, dezembro 20, 2008

O Cabo das Tormentas

A criatura resiste. Recorre neste momento de aflição, a todos os seus esbirros colocados em altos cargos governamentais e outros de grande alcance social. Move todas as suas influências. Tenta escapar ao naufrágio no mar tormentoso do mundo. Mar tenebroso, o que agora atravessamos. Os governos não nacionalizam, não propõem o fim de paraísos fiscais e zonas francas, e continuam a apostar na concessão de crédito para financiar o investimento, mas na sociedade de consumo já não é a poupança que suporta o crédito, mas antes a produção monetária nas rotativas. Usam agora os contribuintes endividados como fiadores e financiadores de bancos falidos e de empresas mal geridas. E ainda nos querem fazer crer que estão realmente indignados porque os bancos não fazem chegar os financiamentos às empresas. Será que somos assim tão ingénuos?

Canalizam-se os recursos dos contribuintes para o benefício de alguns accionistas, num processo de concentração sem precedentes, de poder e riqueza. Mas o contexto não deixa de ser agónico. Algumas ruas gregas já perceberam e gritam contra a plutocracia. É só o começo da bernarda.

Virão dias de bonança, quando menos esperarmos. Restará saber se o navio neoliberal ainda navegará ou se terá sido tragado para as profundezas do oceano. O capitalismo assumirá então novas formas.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Sem futuro não há presente.

Para muitos, não há presente sem passado. Mas é mera ilusão.

O presente constrói-se de futuro.

sábado, novembro 29, 2008

Em democracia

Em democracia, politicamente, não existem revoluções, mas podem haver rebeliões.

Em democracia não se reforma contra o povo, reforma-se com o povo e para o povo. Caso contrário, o governante aproxima-se do tirano.

Nestas democracias de maioria absoluta, o tempo parece iludir os governantes, que no decurso do seu mandato vão manifestando, aqui e ali, comportamentos tirânicos. As nossas secretarias de Estado e direcções gerais e regionais acumulam tiranetes prontos a "trucidar" quem ouse questionar as suas decisões ou a dos seus superiores, a quem prestam uma fidelidade canina.

Compreendo aqueles que ironicamente dão a entender que, se se quer governar contra o povo, então que se suspenda a democracia.

Dizia Aristóteles há cerca de 2400 anos que “o governante trabalha em prol dos outros” (Ética a Nicómaco, Livro V, cap. VI). Esta ética parece ter sido esquecida por muitos com cargos de governação.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Tudo é possível (dentro de determinados limites)

E se te disser, Horácio, que tudo é possível dentro de determinados limites?
E que a vida é um instante de eternidade? Ou, se quiseres, um eterno instante.

Não se fará luz no teu espírito?

Não perceberás que em vão sondaste os limites da vida? E que toda essa parafernália científica que inventaste jamais nos poderá servir para esse fim?
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A propósito das palavras de Agostinho da Silva:

…e aqui temos numerosas horas de conversa ou os dias se comprimem num momento, que o tempo nem sempre dura, e ao que não dura mesmo chamamos nós instante de eternidade…

Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, Considerações, Outros textos, Assírio & Alvim, Lisboa, 1994, pág. 106

sexta-feira, novembro 07, 2008

Sempre, Agostinho

E ainda lhe chamam místico.

Pois, diz ele, e a nosso ver bem, que uma Nação só se realiza com “governos que mais fossem de coordenar que de mandar” e com “escolas que preparassem para o mundo a desenvolver inclusive o interno”.

Por isso dizemos: basta! Basta de “governos de mandar”. Queremos governos que coordenem; governos que não se demitam. Basta de prepotências e de desmandos (em Portugal isso está a acontecer na Educação). Queremos coordenação. O governo na Educação mais não tem feito do que impor, impor e impor. Basta! Que coordene!

Mas voltando ainda ao pensamento de Agostinho, dele ressoa uma ideia: a de união e de reconciliação. Dessa forma se cumprirá um novo Portugal, unido o velho com o do porvir. Só unidas as Nações e os povos empreendem com êxito. Não foi assim na Atenas de Péricles: velhos e novos, ricos e pobres, agricultores e marinheiros, todos unidos? Não é a união de um povo que ressalta nos Painéis de São Vicente?

Enquanto as querelas e as divisões subsistirem, as nações definharão: a desunião predominará sobre qualquer tentativa de reconciliação.

Mas deixamos-vos com as palavras de Agostinho. Sempre, Agostinho [os sublinhados são nossos].

«Só realizada uma Nação de frutos de terra e de frutos de mar, de pequena indústria transformadora livre de cadências, de escolas que preparassem para o mundo a desenvolver inclusive o interno, cooperadores excelentes, de concelhos que a si próprios se governassem, sem mutiladoras dependências do poder central, de propriedade comunitária, mesmo no fabril e no comércio - comunitária de liberdade partilhada e não de sofrida opressão, e de governos que mais fossem de coordenar que de mandar, e assim mesmo pela região passando -, só então Portugal se deveria lançar a nova revoada, sendo seu primeiro voto o de poder aliar esforços com o vizinho que durante séculos temera e que devia ser agora um esplendor de nações livres, também livres de novo seus antigos cidadãos de Maomé e Moisés, por tantos anos afastados ou odiados ou temidos.

De todos precisaria como irmãos para então, com segurança e promoção alheia e própria, ir de novo àquela Europa em que por pouco acabar, de Mercado, a que tanto o queriam prender e passando a Paraíso, e a reconhecendo como península da Ásia sobre um mar de porvir, ocidente em futuro de nascente, sem fronteiras de leste e oeste que artificiosamente a dividissem.
»

Agostinho da Silva, Ir à Índia sem Abandonar Portugal, Considerações, Outros textos, Assírio & Alvim, Lisboa, 1994, pág. 137

quarta-feira, novembro 05, 2008

Ridículo

É ridículo o argumento dos neoliberais que agora apontam o dedo acusador às entidades reguladoras por não terem estado atentas às falhas do mercado e aos que nele irresponsavelmente actuaram. É tão ridículo como o argumento que culpa as distracções dos polícias pelas acções dos ladrões. É que o problema, na realidade, não são os polícias, são os ladrões. O problema não são as entidades reguladoras, mas a política que sempre defendeu a mínima intervenção do Estado.

O mercado falhou porque, ao contrário do que sempre defenderam os neoliberais, tem de ser fortemente regulado pelo Estado. Curiosamente, vêm agora culpar o Estado e as entidades reguladoras pelas falhas do mercado e pelas irresponsabilidades dos directores executivos e quadros dirigentes. O mesmo Estado que, segundo os neoliberais, deveria intervir o mínimo nos mercados, financeiros ou não, e na economia.

Poupem-nos!

sábado, novembro 01, 2008

São Jerónimo

São Jerónimo (1521) – Albrecht Dürer

O dedo afaga o crânio, liso e frio como a morte. Um pensamento vago parece perpassar-lhe a mente esgotada de tanto pensar. Até a ordem das palavras é um mistério…

A Vida, o Espírito: para onde vão após o último sopro? Para o Paraíso, é certo. Mas isso é uma questão de Fé. A Razão contudo, teima em questionar, ainda que a resposta cabal seja pronunciada mil vezes.

A presença de Cristo, Aquele que venceu a Morte, é um eterno desafio.

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