quarta-feira, setembro 02, 2009

O “socialismo” da “governação socialista”

O que impossibilitou as reformas anunciadas e esperadas da governação socialista?
É um enigma. Não sei porque é que não funcionou. Eu tive esperança…Possivelmente tem a ver com os impasses internos, como o marxismo dizia, com «contradições internas» - eu prefiro «impasses» - da própria política de modernização, que foi feita a martelo. Imposta a martelo. Que ela tenha de ser imposta de cima, muito bem, mas então que se faça ouvindo quem está por baixo, as populações, os grupos sociais, etc., para além mesmo dos sindicatos. Vamos supor uma coisa, a sinceridade: eles queriam mesmo mudar isto e começaram a martelo porque docemente não se vai lá. Simplesmente o martelo obriga a muita coisa que provoca o seu contrário e se vira contra si. Depois há aqui outros temas a desenvolver: por exemplo, o que é o socialismo desta governação socialista? Fala-se sempre numa coisa óptima que fez o Governo, que foi assegurar a Segurança Social e fala-se unicamente nisso. O resto são migalhas que estão adiadas, que não foram feitas. Então o que há aqui de socialismo? Nada.
José Gil, LER, Entrevista de José Riço Direitinho, Setembro 2009, página 24.

terça-feira, setembro 01, 2009

A Guerra

Cruzador alemão, Schleswig-Holstein

A Segunda Guerra Mundial não começou em 1941, nem em 1940, nem sequer a 3 de Setembro de 1939. Começou às 4:45 da madrugada de 1 de Setembro de 1939. Foi nesse preciso momento que o cruzador alemão Schleswig-Holstein, numa visita amigável, atacou no porto de Danzig (Gdansk) e abriu fogo à queima-roupa sobre o forte polaco de Westerplatte. Simultaneamente, ao nascer do dia, a Wehrmacht alemã atravessou a fronteira da Polónia em vinte locais diferentes – a oeste, a norte e a sul. Foi um acto de guerra não declarado: mas, sem dúvida, um acto de guerra.

Norman Davies (2006). A Europa em Guerra, 1939 – 1945. Edições 70.

A partir de então o mundo mudou, como nunca antes tinha mudado. Jamais voltaria a ser o mesmo. Fazem hoje 70 anos. Nos próximos seis anos suceder-se-ão cerimónias de lembrança, coincidindo com os principais acontecimentos dessa guerra de má memória. Felizmente neste país limitámo-nos a ouvir ao longe o troar dos canhões. Felizmente para nós, tratou-se de uma guerra longínqua, ainda que no nosso continente e no nosso oceano.

segunda-feira, agosto 31, 2009

Pós-política

A crise é tão grande e tão profunda que está literalmente em tudo e em toda a parte: nas ruas, nas conversas, num medo surdo que vai crescendo, no desprezo geral pela autoridade e na desconfiança de qualquer política.

Vasco Pulido Valente, Público, 16.08.09

sexta-feira, agosto 28, 2009

Os últimos dias de Agosto

Claude Monet (1840-1926) -A Regata de Sainte-Adresse, 1867

Música: Shostakovitch, Jazz Suite N.º 2, Valsa Lírica

quarta-feira, agosto 26, 2009

Ética e Responsabilidade

«Mas a ética é a esfera que não conhece culpa nem responsabilidade: é, como sabia Spinoza, a doutrina da vida feliz

Giorgio Agamben, O que resta de Auschwitz – O artigo e o testemunho. Homo Sacer III.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Semper Fidelis


Fidel Castro, a fiel fortaleza, sempre fiel, está longe de ter perdido a lucidez, como muitos gostariam que fosse.

Sempre fiel aos seus princípios e à Revolução, mesmo no fim, não deixa de estar atento ao mundo. Manifestou a lucidez que não teve Hoxa ou que não tem Mugabe, ao retirar-se do Poder em Cuba. Manifestou lucidez ao receber na sua ilha o Papa João Paulo II. Mas mais do que acreditar em Deus, crê no Homem e na Revolução.

Está lúcido quando ouve Ban Ki-moon a propósito da Cimeira de Copenhaga sobre o clima, ou os generais do Pentágono, acerca da ameaça ambiental à segurança dos EUA, e preocupa-se com a sobrevivência dos pobres do mundo.

Ao receber estudantes de Direito venezuelanos referiu que jamais poderá ser revolucionário aquele que não acredita no Homem. Essa pele não cabe aos ressentidos da vida, nem aos “contentes com o mundo”. E nem as distopias em que se transformaram todas as utopias, sempre que o Homem as tentou levar à prática, o demovem da crença na Humanidade.

Eis Fidel, semper fidelis.

Grécia em chamas

O problema do PS

There is no politics without frontiers.

Chantal Mouffe

Neste momento o PS vira-se para a Direita e exige, embirrento, um programa político para plagiar. Vira-se para a Esquerda e tenta desesperadamente encontrar um aliado que se queira coligar consigo, hipótese que lhe é recusada, cada vez com mais asco. Entre o estrabismo das piscadelas de olho à Direita e à Esquerda, lá vai colhendo migalhas que caem das respectivas mesas políticas, como a de Miguel Vale de Almeida. Na mesma linha de comportamento, procurou desesperadamente por Joana, mas esta fugiu-lhe e bem. Alberto das ilhas já clama, astuto, que o PS não tem ideologia. Mas o caso é pior: o PS está com uma crise de identidade.

Tudo começou a esboçar-se há muitos anos atrás, quando decidiu colocar o socialismo na gaveta. Mais tarde, descuida a defesa de instituições democráticas face a ameaças de desmantelamento e demolição, quando essa era uma preocupação da Esquerda, num momento de apogeu neoliberal. Privatiza, abraça a flexibilidade do trabalho e a degradação da qualidade do emprego. Aprofunda as desigualdades sociais e as disparidades territoriais, simula um esboço de regionalização, que foi rejeitado (para seu secreto alívio). Abraça a "terceira via" de Giddens e faz concessões ao neoliberalismo – Sócrates é a versão portuguesa de Blair. O problema é que o neoliberalismo arrastou o mundo para uma crise financeira, económica, social e ecológica – ou seja, mostrou que não é sustentável – e o PS já não pode voltar atrás. Está demasiado comprometido e não definiu linhas claras de separação entre a sua política e a política neoliberal, (na verdade praticou uma política neoliberal quando esteve no Governo).

Neste momento, em que se exige clareza de posições, temos partidos fiéis aos seus princípios e ideologias e um, sem princípios nem ideologia. Alguns fundadores, como Mário Soares, tentam agora desesperadamente inverter o rumo, mas é tarde demais. O Partido Socialista não é socialista. O que é o Partido Socialista?

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Referências

Mouffe, Chantal (1998) - “The Radical Centre. A politics without adversary”, Soundings, issue 9.

Carpentier, Nico; Cammaerts, Bart (2006) – “Hegemony, democracy, agonism and journalism: an interview with Chantal Mouffe”, Journalism Studies, 7 (6). Pp. 964-975.

domingo, agosto 23, 2009

Niña


Niña, de Sorolla, 1904

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