sexta-feira, outubro 16, 2009

A última árvore

Muitas vezes perguntei a mim próprio: «O que terá dito o ilhéu da Páscoa que cortou a última palmeira, enquanto o fazia?» À semelhança dos lenhadores modernos, terá gritado: «Empregos sim, árvores não!»? Ou: «A tecnologia vai resolver os nossos problemas. Nada temam, havemos de encontrar um substituto para a madeira»? Ou: «Não temos provas de que não haja mais palmeiras algures na ilha, temos de fazer mais pesquisas, a vossa proibição de cortar árvores é prematura e provocada por medos irracionais»? Questões semelhantes surgem todos os dias, em todas as sociedades que prejudicam inadvertidamente o seu ambiente.

Diamond, Jared (2005); Colapso. Ascensão e Queda das Grandes Civilizações. Gradiva.

terça-feira, outubro 13, 2009

Os guardiões

Junto ao mar contemplamos

A partida do último homem

Depois das árvores.

Seremos os últimos guardiões do mundo

Deixado para trás.

Aqui pernoitaremos

Até ao fim dos tempos.


Nota: os moai não contemplam o mar. Na ilha de Páscoa as estátuas não estão a olhar para o mar.

Sobre este assunto, ler a obra do geógrafo Jared Diamond:

Diamond, Jared (2005); Colapso. Ascensão e Queda das Grandes Civilizações. Gradiva.

domingo, outubro 11, 2009

October Lazy Sunday Morning in Spain

Praia de Islantilla (Andaluzia)

Passeio de Islantilla (Andaluzia)

A tranquilidade matutina do domingo oculta uma ameaça velada. O Verão prolonga-se até meados de Outubro e ainda não terminou. A água falta nos campos e nas albufeiras. Na serra aguarda-se desesperadamente pela chuva. Entretanto tudo é abandono e quietude. Receia-se um novo ciclo de prolongada seca. Mas está uma agradável manhã de domingo em Islantilla.

sábado, outubro 10, 2009

terça-feira, outubro 06, 2009

Ozymândias



Nemrut Dagi, sudeste da Turquia

Ozimândias

«Encontrei um viajante de uma terra antiga,
Que disse: “Duas vastas pernas de pedra sem tronco
Erguem-se no deserto. Perto delas, na areia
Meio enterrado, jaz um rosto despedaçado, cujo olhar severo
Revela na expressão escarninha de frio comando,
Que o escultor bem sabia ler essas paixões
Que ainda sobrevivem, estampadas nestas coisas sem vida,
A mão que as arremedava e o coração que as alimentava.
E sobre o pedestal, podem ler-se estas palavras:
“O meu nome é Ozimândias, Rei dos Reis:
Olhai as minhas obras, ó Poderosos, e desesperai!”
Nada mais resta ali. Em redor da ruína
Daquele colossal destroço, ilimitadas e nuas
As solitárias e suaves areias estendem-se na distância.»

Percy Bysseh Shelley (1792-1892)


E ainda há quem clame por reis e pela glória perdida,
- A vã glória de mandar - quando o destino dos reis é o do homem mais comum, e na sua vida
Ordenam obras destinadas às areias dos desertos e impérios de vento.
E os ossos apodrecidos dos homens que os serviram
Jazem no fundo dos oceanos, tendo os navios como sarcófago
E o mar como sepultura.

sábado, outubro 03, 2009

Humanismo grego


Muitos prodígios há; porém nenhum
maior do que o homem.
Esse, co’o sopro invernoso do Noto,
passando entre as vagas
fundas como abismos,
o cinzento mar ultrapassou. E a terra
mortal, dos deuses sublime,
trabalha-a sem fim,
volvendo o arado, ano após ano,
com a raça dos cavalos laborando.

Sofócles, Séc. V a. C.

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