segunda-feira, fevereiro 15, 2010

O carnaval tropical não passa por aqui


Ah! Triste fado.
Tudo é enfado e corso a passar.
Brasileiras desnudas tiritando ao ar.
E nós em bermudas errando com frio.
Brasileiras jucundas num arrepio.

Pára o cortejo já em retirada.
Que está um bêbado estirado na estrada.

sábado, fevereiro 06, 2010

As amendoeiras floriram! Quais jacarandás!



Posse!

Avisam-se os estimados urbanitas que o animal preto à esquerda não é um touro nem um boi cobridor.

terça-feira, janeiro 26, 2010

A globalização atingiu em cheio o Algarve Oriental

Quando éramos crianças passeávamos alegremente ao lombo de velhos burros, nos verões quentes dos idos anos 70.

Muitas vezes éramos surpreendidos por sonoros zurros que ecoavam nas ruas tortuosas da aldeia. Os grunhidos eram omnipresentes. Bovinos, muares, caprinos e ovinos povoavam os estábulos. As casas, entre estrumeiras e pocilgas, não tinham electricidade nem água canalizada e os fogões ainda funcionavam a lenha. Pendurados nas chaminés secavam chouriços. Ao entardecer as mulheres transportavam cântaros à cabeça e reuniam-se junto às noras, centros de convívio local. Os homens, quando regressavam da lavoura ou das salinas, reuniam-se nas tabernas e bebiam vinho, muitas vezes até à embriaguez. Ao fim da tarde, nos pátios e nos quintais, ouvia-se a algaraviada da gente feliz. Candeeiros a petróleo alumiavam as noites estreladas. A civilização rural ainda fervilhava nas aldeias do Algarve Oriental, sem pressentir que estava à beira do fim.

***

Volvidos 40 anos, tudo mudou.

Os campos de golfe invadiram a arcádia algarvia. Antigos montes convivem agora com moradias de 500 000 euros e mais.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Para lá do horizonte, dançam criaturas bisonhas

Max Ernst, The Fireside Angel, 1937

Um horizonte onírico, claro está.

E voltamos ao mesmo

Se é verdade que a crise económica e financeira abalou o neoliberalismo, também é verdade que não constituiu o seu fim. O capitalismo, por sua vez, está longe do seu estertor porque as crises fazem parte da sua natureza. O neoliberalismo é apenas uma forma de capitalismo, tal como o keynesianismo o foi, antes da década de 70.

Ultrapassados os dias de tempestade financeira e na iminência de soprarem ventos bonançosos, o comportamento dos governantes altera-se novamente e rapidamente se esquecem das intenções que manifestaram, com veemência, nos dias de aflição. Não terminaram com os paraísos fiscais onde os ricos e as empresas mais lucrativas depositam os lucros, furtando-se ao dever de contribuírem através dos impostos para o progresso social e para todos os esquemas de solidariedade social e redistribuição de riqueza (essas empresas são contudo, as primeiras a apelar ajuda ao Estado, nos momentos de maior aflição financeira).

Voltámos portanto à economia de casino, irresponsavelmente. Iniciou-se a distribuição de bónus chorudos aos especuladores (gestores e accionistas) pelas maiores instituições financeiras norte-americanas, das quais a Goldman Sachs é um exemplo. Não estão no entanto ainda saldadas as suas dívidas para com os contribuintes e o Estado. Obama bem tenta moralizar os mercados, mas o capitalismo é uma hidra de muitas cabeças. Ainda que seja o Presidente e chefie o governo dos EUA, não consegue levar a sua reforma do sistema de saúde a bom porto. Os conservadores e as empresas seguradoras opõem-lhe uma resistência tenaz.

A cada crise capitalista reforça-se a acumulação e a concentração da riqueza. As empresas mais resistentes, ficam maiores pelas aquisições e fusões que realizam. Acentuam-se as desigualdades entre ricos e pobres e a sociedade torna-se progressivamente mais polarizada e desequilibrada: a uma poderosa minoria de ricos opõe-se uma larga maioria de pobres, que engrossa cada vez mais.

Chegámos agora ao ponto de o crescimento económico se tornar independente do emprego, ou seja, o crescimento económico é hoje possível com desemprego crescente. Desactualiza-se então o discurso dos políticos e economistas neoliberais, que vêem no crescimento económico a panaceia para o desemprego e para a saída da crise social. Ainda que a crise económica possa ser ultrapassada, a crise social persiste. O sistema económico capitalista serve por isso, cada vez menos, porque agrava as disparidades sociais em vez de as resolver.

sábado, janeiro 23, 2010

A Jangada da Medusa

Théodore Gericault, A Jangada da Medusa, 1818-1819

«Logo à primeira vista podem distinguir-se o grupo da depressão na parte esquerda do quadro, e o grupo da esperança na parte direita; o primeiro continua de olhos cravados na sua miséria enquanto o segundo fita o navio salvador no horizonte. Face ao extremo, estes náufragos exprimem a disputa entre esperanças e desânimos constitutiva da totalidade da época moderna. Desde o motim dos capitães de Vasco da Gama e a sua repressão, a campanha da globalização é uma guerra permanente dos humores e um combate pelos meios de orientação que é da ordem da hipnose de grupo – e desde recentemente: pelo poder de programação nos mass media e pelo poder de consulta nas empresas.»

Peter Sloterdijk, O Palácio de Cristal, Relógio D’Água, 2005, pp. 91-92.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Finda a crise financeira, a crise continua


As grandes instituições financeiras afastam-se alegremente da crise financeira. Irresponsavelmente. Atrás de si deixam um longo rasto de desempregados que ainda não se recompuseram da crise económica por elas gerada. Para os desempregados a crise continua. E assim vai o mundo financeiro, cantando e rindo enquanto a economia real se afunda. Entretanto, os paraísos fiscais permanecem intactos. Ninguém conseguiu acabar com eles, ao contrário do que prometeram nos momentos de maior aflição, no pico da crise económica e financeira.

terça-feira, janeiro 19, 2010

Entretanto, na Serra Algarvia


Toda a tarde, toda a noite, há um diabo de um cordeiro que não pára de balir. Irra!

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