sábado, março 20, 2010

A Primavera

A Primavera
Giuseppe Arcimboldo, 1573

Uma chegada, sempre celebrada.

sexta-feira, março 19, 2010

“Yes we can!”


Obama vs lobbie das seguradoras.
Obama apostou tudo na reforma do sistema de saúde americano. Desde o princípio que jogou uma cartada muito alta. Quer reformar o sistema de saúde porque, como disse no Verão, “é o Presidente dos Estados Unidos da América”, mas, ser o Presidente não significa necessariamente que detenha o poder. Nas democracias modernas o poder já não reside em quem governa, ou seja, em quem é suposto representar o povo. O poder está noutro lado.
Será que o homem do “Yes we can!” pode realmente? Oxalá possa!
***
Se no domingo Obama não vencer o lobbie das seguradoras, então quem poderá vencer? O seu “Yes we can!” cairá pela base.
Para que servirá então ser o Presidente, se afinal, não pode?

quinta-feira, março 18, 2010

Privatizem tudo!

«privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu,
privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei,
privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno
e de olhos abertos.
E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez
a exploração deles a empresas privadas,
mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo...
E, já agora, privatize-se também
a puta que os pariu a todos»


José Saramago, in Cadernos de Lanzarote – Diário III

segunda-feira, março 15, 2010

África, um lugar longe da esperança.

(MLADEN ANTONOV/AFP/Getty Images)

A África hoje, é um lugar muito longe da esperança.

Aqui, excelentemente retratada, sem o romantismo dos tempos, cada vez mais distantes, da "África minha".

Agora subsiste apenas uma ténue recordação das rubras montanhas de fogo, quando as queimadas perpétuas abrasavam as florestas na noite. Todas as noites.

quarta-feira, março 10, 2010

A Natureza está para além do Bem e do Mal?

O Mal e o Bem existem porque o Homem existe ou existem também na ausência do Homem? Ou existiriam, caso o Homem não existisse?

Há moral na Natureza?

Tudo indica que sim, dado que o Homem não se pode dissociar da Natureza em que se integra. Faz parte dela.

O Homem é a Natureza que pensa, raciocina e calcula. Antecipa e prevê. E luta contra a morte, ou pela vida (ou inconscientemente, pela perpetuação dos genes, como todo o ser que se quer vivo).

terça-feira, março 09, 2010

O Eixo do Mal

Multiplicam-se as crianças mutantes de Fallujah. Ver, aqui, aqui e aqui.

Pedem agora às iraquianas de Fallujah para que não tenham filhos. Nada se aprendeu com as bombas atómicas nem com as de napalm. As guerras limpas afinal são sujas. Sujas de morrer. Na verdade, não há guerras limpas. Nunca as guerras foram limpas. Os danos colaterais são os principais danos. Não há vítimas colaterais. Há vítimas. E ainda não nasceram todos os que irão sofrer com a batalha de Fallujah (2004).

Um crime contra a humanidade! Onde se esconde o réu? Por que não o julgam?

Quem é o responsável por tão hediondo crime? Que regime político e económico fomentou tal crueldade?

Afinal, onde passa o Eixo do Mal?

segunda-feira, março 08, 2010

O anticristianismo de Nietzsche

Pensamos compreender Nietzsche e ele faz-se muitas vezes compreender, contudo, verifica-se facilmente que se trata de um ressentido. É um ressentido com o cristianismo. O título mais indicado para a sua imprecação contra o cristianismo é O Anticristianismo e não O Anticristo, pois Cristo não integrou o cristianismo, assim como Marx, por exemplo, não foi marxista. Há que separá-los, Cristo e Marx, das ideologias que neles se basearam, mas que eles não fundaram. Na verdade, Nietzsche afirma que “houve apenas um cristão e que esse morreu na cruz” (1).

Por vezes, não muitas, Nietzsche parece, surpreendentemente, de forma implícita, valorizar Cristo. Por exemplo, quando afirma que “Qualquer prática quotidiana, qualquer instinto, qualquer juízo de valor que se torne acto são, actualmente, anticristãos: que monstro de falsidade há-de ser o homem moderno, para que, apesar disso, não se envergonhe de ainda se chamar cristão!(2), está implicitamente a considerar Cristo como uma referência que não está a ser seguida, em actos e atitudes, por aqueles que se dizem cristãos, e que esses deveriam por isso envergonhar-se, na medida em que estão a ser falsos.

Nietzsche parte também de uma premissa falsa ao separar o Homem da Natureza. Para ele os “valores naturais”, a Natureza e a Vida são valores que voam mais alto. O que se opõe à Natureza, aos valores naturais, à Vida deve ser alvo de imprecação. Mas o Homem, na verdade, faz parte da Natureza, o Homem não está fora da Natureza e por isso qualquer separação entre Homem e Natureza é artificial.

Outra objecção: Nietzsche condena o cristianismo por este ter considerado a Ciência o primeiro pecado, o pecado original, aquele que levou à expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Tudo porque a ciência “tornava o Homem igual a Deus” (3). Mas a verdade é que o homem científico está a transformar o mundo num lugar muito distante de um paraíso. O mundo pode tornar-se num inferno por causa do uso indevido que se faz dos avanços científicos. Um inferno atómico, um inferno demográfico, um inferno ambiental, etc. Na verdade, o uso que o Homem está a fazer dos conhecimentos científicos está a expulsá-lo do Paraíso, o paraíso terrestre, ameaçado pela degradação ambiental e pela extinção das espécies. E aqui a metáfora da Árvore do Saber e da expulsão do Paraíso, torna a emergir, prenhe de significado.

O conhecimento científico é um instrumento ao serviço do Homem, e como todos os instrumentos, pode ser utilizado indevidamente.

Nietzsche é preconceituoso em relação à mulher, que considera fraca de vontade:

“Qualquer forma de crença é em si mesma uma expressão de despersonalização, de alienação de si próprio…Se se tiver em conta como é necessário à maioria das pessoas um elemento regulador que as ligue e as fixe a partir do exterior, como a coacção (num sentido mais radical, a escravatura) é a única e derradeira condição que permite prosperar às pessoas de vontade mais fraca, sobretudo à mulher, pois também se compreende a convicção, a «fé»”. (4)

Nietzsche considera a bondade uma fraqueza, com uma excepção: “Só às pessoas mais espirituais é permitido aceder à beleza e ao belo; só nelas é que a bondade não é fraqueza.” (5). O filósofo classifica muitas vezes as pessoas em fracas e fortes, como se tal fosse possível. Tratam-se de condições transitórias. Ninguém é sempre fraco, assim como ninguém é sempre forte. O ser humano vacila muitas vezes, cai e levanta-se…

Enfim, o cristianismo para Nietzsche, é o grande inimigo da Vida, ainda que tenha como primeiro mandamento “Não matarás!”. E isto é uma contradição.

P.S. - Contudo percebemos o rancor de Nietzsche em relação a esses que mataram e matam em nome de Deus, quando o primeiro mandamento pelo qual dizem guiar-se é “Não matarás!”, ou em relação aos sacerdotes, como por exemplo, os padres pedófilos que violam, para além das crianças, os princípios cristãos mais fundamentais. Com efeito, tem razão Nietzsche quando afirma que houve apenas um cristão e que esse morreu na cruz.


***

Notas:

(1) – Friedrich Nietzsche, O Anticristo in Obras Escolhidas de Friedrich Nietzsche, Volume 7, Relógio D’Água, 2000, pág. 57.

(2) – Op. cit., pág. 57.

(3) – Op. cit., pág. 75

(4) – Op. cit., pág. 87

(5) – Op. cit., pág. 93

sábado, março 06, 2010

O desprezo pelo homem moderno

«Há dias em que me atormenta um sentimento mais negro que a mais negra melancolia: o desprezo pelo homem. E para não deixar dúvidas quanto ao que desprezo, a quem desprezo: é o homem de hoje, o homem de que sou fatidicamente contemporâneo.»

O homem de hoje – o seu hálito impuro sufoca-me…Em relação a coisas passadas sou, como todos os adeptos do saber, de uma grande tolerância, isto é, de um magnânimo autodomínio: percorro o universo de manicómio de milénios inteiros, quer se chame “cristianismo”, “fé cristã” ou “Igreja Cristã”, com uma sombria precaução – e abstenho-me de tornar a humanidade responsável pelas suas doenças mentais. Mas o meu sentimento muda, rompe-se assim que entro nos tempos modernos, no nosso tempo.

(…)

«Qualquer prática quotidiana, qualquer instinto, qualquer juízo de valor que se torne acto são, actualmente, anticristãos: que monstro de falsidade há-de ser o homem moderno, para que, apesar disso, não se envergonhe de ainda se chamar cristão!»

Nietzsche (1895), O Anticristo

Os muçulmanos na Europa

(Ton Koene/ZUMA/VISUAL)

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