quarta-feira, outubro 06, 2010

Salomé, maldita Salomé

Leon Herbo, Salomé, 1889

terça-feira, outubro 05, 2010

A sorte do mensageiro

Dizem que o primeiro a morrer é o mensageiro. O Baptista não escapou a essa sorte. Eis a sua cabeça, num prato, num excelente quadro de Caravaggio.

Caravaggio, Salomé, 1610

Mataram o mensageiro mas a mensagem não morreu. Sobreviveu-lhe e sobrevive, para todo o sempre.

Ainda a cruz

Cristo não morreu na cruz coisa nenhuma. Cristo viveu na cruz. Quando morreu já lá não estava. Se é que morreu.

Divagações sobre o Baptista


Leonardo da Vinci, São João Baptista, 1513-1516

Eis que Leonardo decidiu pintar um santo estrábico. O dedo indicador esticado é ofensivo em certas culturas. (Mas às vezes apetece esticar o dedo a certo tipo de gente, e não é o indicador).

Aponta o Baptista para o céu, parecendo querer indicar-nos a proveniência daquele que virá. Para onde olha o tolo? (Não me refiro ao Baptista). Para a cara do Baptista, para o dedo ou para o céu? (Diz um ditado, não sei se confuciano, que quando o sábio aponta para o céu, o tolo olha para o dedo). Estaria Leonardo a querer fazer de nós tolos? Onde está o céu?

Também a cruz está presente: saberia Baptista o destino daquele de quem anunciava a vinda?

segunda-feira, outubro 04, 2010

Irrisório

O Banco de Portugal, vem agora pedir-nos que poupemos. Daria vontade de rir, se o caso não fosse dramático. Quando o nosso rendimento disponível diminui acentuadamente devido às medidas do governo no âmbito do PEC III e quando grande parte da população está “com a corda na garganta” pede-se-lhe agora que poupe…Curiosamente, o Banco de Portugal não pede aos bancos que subam as taxas de juro das contas de poupança ou que baixem os spreads, para que dessa forma se incentive a poupança. O Banco de Portugal, não solicita ao governo para que aumente as taxas de juro dos certificados de aforro, ao contrário do que foi feito anteriormente. Não. O Banco de Portugal prefere antes fazer o mais fácil e o mais ridículo: “Portugueses, poupem que os tempos são difíceis!”

Acresce a tudo isto, a ideia do Banco de Portugal da criação de uma agência paralela e independente: mais uma instituição, mais uma despesa num tempo em que é preciso reduzir despesas, mais “jobs for the boys”, enfim…É coisa para gritar: “Tenham juízo, pá!”

sexta-feira, outubro 01, 2010

A cobardia da política

No país com as maiores desigualdades sociais da União Europeia o governo “socialista” decide aumentar o IVA, um imposto indirecto e cego à condição socioeconómica de cada um: ricos e pobres pagarão exactamente o mesmo, independente da sua condição económica e social. Ora isto é uma grande injustiça e uma cobardia.

É uma injustiça porque cada um devia pagar imposto na mesma proporção da sua riqueza, ou seja os ricos deviam pagar mais e os pobres menos. É uma cobardia porque com tal medida os governantes não ousam enfrentar os poderosos e as elites. Além disso, esta medida política veda aos pobres o acesso a alguns bens de consumo mais comuns. Um euro na carteira de um rico tem um peso diferente de um euro na carteira de um pobre. Os nossos “socialistas” esqueceram-se deste facto.

Não aumentaram o IRC dos bancos para níveis iguais ao das demais empresas; não reorganizaram empresas públicas, como a CP, que tem um chefe para cada dezassete trabalhadores; não extinguiram institutos públicos cuja principal função é assegurar o sustento dos que lá foram instalados pelos seus influentes amigos, bem colocados na política ou nos quadros da administração pública. Nem ao menos aumentaram o IRS dos escalões mais elevados. Preferiram aumentar o IVA, mais uma vez.

É uma política cobarde porque sacrifica quem não tem poder reivindicativo: os reformados e os idosos, os desempregados, os beneficiários do rendimento social de inserção, as famílias numerosas, etc.

Realmente, é de dar os parabéns ao Partido “Socialista”, tão preocupado com o interesse nacional, como se o interesse nacional não fosse o interesse da maior parte dos portugueses.

sábado, setembro 25, 2010

Surpreendam-nos! Taxem os bancos como as demais empresas.

Neste momento de aperto económico e financeiro o que esperam os nossos governantes para taxar os bancos a níveis percentuais iguais às demais empresas? Seria justo, não? Afinal os bancos, ao contrário das outras empresas, têm asseguradas múltiplas protecções contra a falência, a maior parte delas garantidas pelo próprio Estado com o dinheiro dos contribuintes. A necessidade de cumprimento rigoroso do défice e de obtenção de receitas, para além da redução da despesa, exige-o, mas os nossos governantes nem ousam tocar no assunto.

Será que o poder político está assim tão refém do poder económico e financeiro?

A esses, aos bancos, não atingem os “pacotes de austeridade”.

sexta-feira, setembro 03, 2010

O medo de ficar para trás

«Quando a competição substitui a solidariedade, as pessoas vêem-se abandonadas aos seus próprios recursos, dolorosamente escassos e manifestamente insuficientes. A deterioração e a decomposição dos laços colectivos convertem-nas, sem o seu consentimento, em indivíduos de jure, mas um destino opressivo e ingovernável conspira no sentido de lhes negar o ingresso na categoria de indivíduos de facto. Se nas condições de modernidade sólida, a desgraça mais temida era a impossibilidade para o indivíduo de se adequar à norma geral, hoje em dia, com o advento da modernidade líquida, o fantasma mais aterrador é o representado pelo medo de ficar para trás.»

Zygmunt Bauman (2006 [2005]), Confiança e Medo na Cidade, Relógio D’Água, pág. 17-18.

quinta-feira, setembro 02, 2010

O eterno retorno

Quando Agosto se encerra o país regressa à cidade. É este o momento de abandonar a cidade.

Post scriptum:

Na verdade, terminado o mês de Agosto é a cidade que regressa a si mesma porque, por definição, a cidade são os que nela habitam.

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