domingo, maio 08, 2011

Essa gente que nunca se engana

Duvidar sempre, sempre, daquele que nunca duvida, mas, sobretudo, nunca, nunca o tomar como guia.

sábado, maio 07, 2011

Feira do Livro

Visitei ontem a Feira do Livro de Lisboa, lá pelas 23:00 e, maravilha das maravilhas, chovia, ventava e trovejava. Podia aproximar-me das bancas sem obstáculos e deter-me na egoísta contemplação de lombadas e lombadas, todas bem alinhadas nas caixas das pechinchas. Não havia “happy-hour”, mas foi uma felicidade. Nunca tinha visitado a Feira do Livro no meio de uma pequena intempérie. Eis as pechinchas adquiridas a preço de banana:


Livre Mente

Fernando Savater

Preço na Feira: € 3,0

Diferença Internet-Feira: €11,3

Relógio D`Água

Preço na Internet: € 14,30

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Vida de Sólon

Plutarco

Relógio D`Água

Preço na Internet: € 9

Preço na Feira: € 5,0

Diferença Internet-Feira: €11,3

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Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por Volta de 1900

Walter Benjamim

Preço na Internet: € 12,05

Preço na Feira: € 5,0

Diferença Internet-Feira: €7,05

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Vida e Sociedade - Nos Primórdios da Democracia

Verbo

Preço na Internet: € 36,33

Preço na Feira: € 5,0

Diferença Internet-Feira: €31,33

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Vida e Sociedade – No Renascimento

Verbo

Preço na Internet: € 36,33

Preço na Feira: € 5,0

Diferença Internet-Feira: €31,33

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Se tivessem sido adquiridos através da Internet, teriam custado € 108,01. Na Feira foram € 23,0. Uma diferença de € 85,01!

Esta é uma razão pela qual gosto de visitar a Feira do Livro.

Chovem pesadas palavras.

Abramos os guarda-chuvas.

A comunicação do Presidente

Algumas frases que ficaram do Presidente Cavaco Silva na sua comunicação ao País:

"Trabalhar melhor!"
"Poupar mais!"
"Não podemos gastar acima das nossas possibilidades!"

***

No mesmo momento em que furtam a cada trabalhador português uma percentagem do seu vencimento através de uma taxa de remuneração extraordinária (na verdade, um roubo extraordinário), dizem-lhe, com uma palmadinha nas costas: "Vá lá Zé, tens de trabalhar melhor." E se pagassem melhor? E se as horas extraordinárias deixassem de ser taxadas? Não iríamos, dessa forma, trabalhar melhor? Não se motiva ninguém para o trabalho, roubando-lhe parte do salário.

"Poupar mais!" Quem? Os endividados? Os desempregados? Os pensionistas? Os depauperados? Os roubados? Por amor de Deus Sr. Presidente!

"Não podemos gastar acima das nossas possibilidades!" Quem? Deve estar a referir-se aos endividados e ao Estado, também ele endividado. Ou será que se refere à maior parte dos portugueses ou aos idosos, que mal têm dinheiro para os medicamentos ou para se deslocar pelos seus próprios meios ao hospital mais próximo, que por vezes está a milhas?

***

Quem se endividou indevidamente, por má gestão do rendimento familiar, ou da coisa pública, ou da governação, ou do que quer que seja, que pague a dívida que contraiu. Neste momento, não é isso que está a acontecer. Neste momento, está a pagar o justo pelo pecador, ou melhor, está a pagar o que poupou pelo devedor, o que se sacrificou pelo que não se importou.

Mas o pior de tudo isto, é que terão de ser as gerações futuras a pagar também pela actual corja que se endividou e governou como se não houvesse amanhã, como se o dinheiro nascesse numa cornucópia inesgotável. Foi um fartar vilanagem...Na verdade, governar assim até é fácil: "É preciso de dinheiro? Não faz mal. Vai-se ao Totta."

Enfim...é uma injustiça e é insuportável.

terça-feira, maio 03, 2011

Natureza


A Natureza é cultural. A Cultura é natural. Dissociar o Homem da Natureza é um artificialismo grosseiro que altera a forma de ler o mundo.
Afinal o que é a Natureza? E o que é o Homem? Não faz o Homem parte da Natureza? Que sentido faz então, dissociar estas duas categorias quando se estudam os fenómenos à superfície da Terra?

***

«A natureza tem sido modificada pela acção humana ao longo dos tempos. O ambiente é uma categoria que tem de incluir campos que foram desbravados, pântanos e zonas húmidas que foram dre­nados, rios que foram sujeitos a transformações e estuários que foram dragados, florestas que foram abatidas e replantadas, estra­das, canais, sistemas de irrigação, vias-férreas, portos e ancora­douros, pistas de aterragem e terminais, barragens, centrais gera­doras de energia e centrais distribuidoras de electricidade, redes de canalização e de esgotos, cabos e redes de comunicação, enormes cidades, subúrbios que alastram, fábricas, escolas, casas, hospitais, centros comerciais e destinos turísticos. Acresce que esses am­bientes são habitados por espécies inteiramente novas (cães, gatos, estirpes de gado e galinhas sem penas) concebidos por práticas reprodutivas selectivas (suplementadas hoje por práticas directas de engenharia genética que modificam culturas como o milho e os tomates) ou que sofreram mutações ou encontraram novos nichos ambientais (pensemos nos padrões de doenças, como a gripe das aves, que sofreram mutações e começaram por se instalar nos ambientes recém-construídos da criação em fábrica de galinhas sem penas). Pouco resta à superfície do planeta Terra que possa ser concebido como natureza pura e original, sem a mão do homem. Por outro lado, é absolutamente natural as espécies, incluindo a nossa, mo­dificarem o seu ambiente para que possam reproduzir-se. Fazem­-no as formigas, as abelhas e, da forma mais espectacular, os castores. Do mesmo modo que um formigueiro é absolutamente natural, também a cidade de Nova Iorque o é, decerto.»

David Harvey, O Enigma do Capital, Bizâncio, 2011, pág. 100

segunda-feira, maio 02, 2011

Morreu um terrorista

Hoje morreu um terrorista. Bin Laden era isso, na sua essência. Dizem, contudo, que ainda não terminou a guerra contra o terrorismo, como se estivessem a elucidar-nos. Como se estivessem a contar-nos uma grande novidade.

Enquanto houverem dois homens à superfície da Terra, haverá sempre um, pelo menos um, potencial terrorista.

Este é um dos significados da história bíblica de Abel e Caim.

domingo, maio 01, 2011

Se eles pudessem...

Breaker Boys, 1910

Se eles pudessem, as crianças ainda trabalhariam em todos os países do nosso mundo. As nossas crianças. O trabalho infantil, que prossegue nos países do Terceiro Mundo, onde o Estado não protege os filhos dos trabalhadores pobres, é um sinal da persistência dessa gente. Nesses países, os empresários sem escrúpulos - ou na linguagem marxista, os capitalistas - e as multinacionais, avançam à rédea solta e ainda se dão ao desplante de escravizar o trabalho.

Contra esta gente, temos de erguer barricadas intransponíveis e do alto delas, elevar bem a nossa voz: NÃO PASSARÃO!


Islamabad, 2011. Raparigas numa fábrica de tijolos.

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domingo, abril 24, 2011

Abril ou a morte do futuro

"Dia de Luta pelo Futuro" ou "Dia de Luto pelo Futuro"? A decisão depende da nossa acção ou inacção. Acção é luta, inacção é luto (parar é morrer, costuma dizer o bom povo). Vamos carpir por aqui a morte do futuro ou vamos lutar por ele? Vamos permitir que decidam o nosso destino por nós, ou vamos tomar o nosso destino nas nossas mãos?

Vamos deixar morrer Abril?



***

Aquilo que se preparam para fazer ao bom povo português é um assalto de proporções dantescas. Essa ajuda, tão propalada, não é ajuda, coisa nenhuma.

Todo o dinheiro que farão entrar, sairá. Servirá para pagar a dívida aos bancos alemães e a outros bancos credores. Nem um cêntimo será gasto em solo pátrio. Por cá só a austeridade permanecerá e, através dela, o roubo, porque o dinheiro que farão entrar (e acto contínuo, sair), também terá de ser pago. E adivinhe quem vai pagar.

Se as dívidas devem ser pagas, que o sejam por quem as contraiu. Mas não vai ser assim. Os mais pobres, os da base, os trabalhadores, é que vão pagar, com o suor do seu trabalho. Mais do que a dívida, os juros a pagar por ela são criminosos e especulativos, por outras palavras, uma exploração e um assalto.

Os contribuintes portugueses, directamente endividados ou não, hipotecários ou não, pobres e da classe média, irão sentir na pele a austeridade. Na verdade, já estão a senti-la.

Os ricos, como sempre, manterão o fruto do seu roubo e do seu egoísmo nos paraísos fiscais distantes. Naqueles em que os grandes governantes do mundo e instituições mundiais, que deveriam regular os fluxos de capital no mundo, não ousam tocar. É assim que os ricos e os especuladores se furtam ao pagamento dos impostos que lhes são devidos, deixando a austeridade para os demais.

Em última análise seremos nós que iremos pagar. Já estamos a pagar. O bom povo português.

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