Quem ama verdadeiramente a liberdade não se deixa aprisionar por discursos e por grandes narrativas que condicionam a visão do mundo.
Quem observar o céu do fundo de um poço, vai achá-lo muito pequeno.
Quem ama verdadeiramente a liberdade não se deixa aprisionar por discursos e por grandes narrativas que condicionam a visão do mundo.
Quem observar o céu do fundo de um poço, vai achá-lo muito pequeno.


Todos os rendimentos, superiores ou iguais ao salário mínimo nacional, serão alvo do imposto extraordinário, excepto os rendimentos de capitais. Cá está a justa repartição dos sacrifícios de que falava o nosso Presidente! É justo!
Argumento de um comentador na SIC Notícias: assim é, pois caso contrário, os investidores poderiam fugir com o dinheiro para o estrangeiro, o que prejudicaria a economia nacional. Brilhante!
O trabalho, infelizmente, não tem o mesmo grau de mobilidade do capital financeiro. Não pode circular com a mesma celeridade. Consequência: taxa-se o trabalho, ficando livre o capital financeiro.
Isto está mesmo a pedir uma bernarda.
Ah plácido povo que a tudo te submetes!
***
Outra:
Tudo isto é revoltante.

| «CITY of ships! | |
| (O the black ships! O the fierce ships! | |
| O the beautiful, sharp-bow’d steam-ships and sail-ships!) | |
| City of the world! (for all races are here; | |
| All the lands of the earth make contributions here;) | |
| City of the sea! city of hurried and glittering tides! | |
| City whose gleeful tides continually rush or recede, whirling in and out, with eddies and foam! | |
| City of wharves and stores! city of tall façades of marble and iron! | |
| Proud and passionate city! mettlesome, mad, extravagant city! | |
| Spring up, O city! not for peace alone, but be indeed yourself, warlike! | |
| Fear not! submit to no models but your own, O city! | |
| Behold me! incarnate me, as I have incarnated you! | |
| I have rejected nothing you offer’d me—whom you adopted, I have adopted; | |
| Good or bad, I never question you—I love all—I do not condemn anything; | |
| I chant and celebrate all that is yours—yet peace no more; | |
| In peace I chanted peace, but now the drum of war is mine; | |
| War, red war, is my song through your streets, O city!» |
Walt Whitman, Leaves of Grass
***
Cidade de navios!
(Oh, navios negros! Oh, navios ferozes!
Oh, belos vapores e veleiros de afiadas proas!)
Cidade do mundo!, (pois todas as raças estão aqui,
Todas as terras do mundo deram o seu contributo);
Cidade do mar! Cidade de apressadas e resplandecentes marés!
Cidade cujas jubilosas marés avançam continuamente ou retrocedem para dentro e para fora em remoinhos de espuma!
Cidade de cais e armazéns - cidade de altas fachadas de mármore e ferro!
Altiva e apaixonada cidade - cidade revolta, louca, extravagante!
Ergue-te, ó cidade, não só pela paz, mas pelo que é realmente, pela guerra!
Não temas - não te submetas a modelos que não sejam os teus, ó cidade!
Contempla-me - encarna-me como eu te encarnei!
Não recusei nada do que me ofereceste - aquilo que adoptaste eu adoptei,
Bom ou mau, nunca te questionei -amo tudo - não condeno nada,
Canto e celebro tudo o que é teu - mas basta de paz,
Na paz cantei a paz, mas agora o tambor da guerra é meu,
A guerra, a guerra vermelha é o meu canto através das tuas ruas, ó cidade!
Walt Whitman, Folhas de Erva - Antologia, Assírio & Alvim, 2003, pp. 263tradução de José Agostinho Baptista
É uma hipocrisia falar-se da justa distribuição dos sacrifícios sem que se defenda uma auditoria à dívida portuguesa. Sem se saber quem são os responsáveis pela dívida, quem viveu acima das suas possibilidades, quem contraiu dívida e quais os valores contraídos, não se pode falar em distribuição justa dos sacrifícios. Enquanto Cavaco Silva não vier defender uma auditoria à dívida portuguesa, não nos convencerão as suas palavras de que “é preciso ter muito cuidado na distribuição justa desses sacrifícios". Soarão a hipocrisia.
Fazer pagar a todos a dívida contraída por alguns é uma injustiça. Tornar a todos devedores quando apenas alguns se endividaram é uma injustiça. Mesmo que uma parte dessa dívida seja atribuível à gestão danosa do Estado.
Por isso, Sr. Presidente, defenda lá a auditoria à dívida portuguesa e deixe-se de tretas.

Walt Whitman é o poeta das transfigurações. É o poeta sem medo. O poeta da Natureza. Transfigura-se no mundo visível e invisível. Não desafia a morte porque a aceita sem temer. O seu espírito deambula, desde os lugares mais luminosos aos mais sombrios. Nas estradas e ruas das cidades. No meio dos regimentos em batalha. Entre as árvores. Sobre a relva. Voando como um falcão. Sentindo o pulsar do coração dos veados. Whitman torna-se o grande sentido do mundo. É panteísta. Sente Deus em todo o lado e em si. E não aceita que lhe venham dizer quem Deus é e onde está.
Eis um hino à própria música. A vitória da derrota e a derrota da vitória. “Também te digo que é bom perder, as batalhas perdem-se com o mesmo espírito com que se vencem”. Tudo se torna mais sereno. Cessou o medo da derrota. Os vencidos fazem parte da festa. Todos são saudados. O conjunto de vitoriosos e vencidos é o mais importante. Sem uma parte a outra perderia significado. A evolução é um jogo de vida e de morte. Que soe a música da vida! Bem sonora! Honras aos vencedores e vencidos (ergamos as nossas taças). Ambos são a face de uma mesma moeda.
Song of Myself
18
«With music strong I come, with my cornets and my drums,
I play not marches for accepted victors only, I play marches for
conquer'd and slain persons.
Have you heard that it was good to gain the day?
I also say it is good to fall, battles are lost in the same spirit
in which they are won.
I beat and pound for the dead,
I blow through my embouchures my loudest and gayest for them.
Vivas to those who have fail'd!
And to those whose war-vessels sank in the sea!
And to those themselves who sank in the sea!
And to all generals that lost engagements, and all overcome heroes!
And the numberless unknown heroes equal to the greatest heroes
known!»
Walt Whitman, Leaves of Grass, Song of Myself, XVIII
***
Tradução: