sexta-feira, julho 15, 2011

1994


Uma garrafa vazia aguarda sobre a mesa
A tua mão ávida,
A tua boca ressequida, equivocada.

A taverna está deserta,
E a brisa agita as teias pendentes.
O teu olhar perde-se nas sombras
E brilha azul no escuro.

Há um copo em repouso sobre o balcão
Com um Porto luzidio.

1994 foi um ano bom.

Já recolhem a casa
Exaustos trabalhadores.
É o fim da tarde.

Vãos os árduos esforços,
Vãos os beijos que depositei na tua face.
Fujo.

Em fuga arremeto contra o vento.
Mergulho na liberdade,
No oceano, no abismo.
Caio, engulo ar.

1994 foi um ano bom.

Quando a tarde finda,
A difusa luz doira os muros
Dos blocos suburbanos.

Da minha janela
não tenho horizontes.

Avisto as nuvens multiformes
Em viagem.
Vagueio em pensamento.

1994 foi um ano bom.

quarta-feira, julho 13, 2011

Porto ao Pôr-de-sol

Claude Lorrain, Porto ao Pôr-de-sol, 1674

terça-feira, julho 12, 2011

A desvalorização do trabalho

Nunca ousámos sequer pensar que iríamos enriquecer a trabalhar, mas estávamos longe de imaginar que iríamos empobrecer a trabalhar. Contudo, é isso que está a acontecer. Empobrecemos a trabalhar. Trabalhamos mais, auferimos menos. Parte do que nos é devido, é-nos subtraído. Estamos a ser alvo de um verdadeiro roubo institucionalizado. Enfim, tudo isto é triste, tudo isto é fado.

E ainda a procissão vai no adro.

segunda-feira, julho 11, 2011

Glórias do futuro*

Com efeito, estamos prenhes de ouvir falar das glórias do passado. Que se calem essas vozes! Que se cale esse hino!

Queremos saber das glórias do futuro!

domingo, julho 10, 2011

Espírito livre

Quem ama verdadeiramente a liberdade não se deixa aprisionar por discursos e por grandes narrativas que condicionam a visão do mundo.

Quem observar o céu do fundo de um poço, vai achá-lo muito pequeno.

Charles Darwin, o anti-Cristo cósmico


A vida, que se consubstancia na evolução, joga-se na entropia criando ordem, definindo níveis de organização que surgem de fases anteriores sem que possamos descobrir determinismo e, suprema ironia, só pode evoluir produzindo desordem e impondo-lhe condicionalismos. Charles Darwin encarna o pior acidente cosmológico do pensamento ocidental, o anti-Cristo cósmico.
(…)
Não há Deus, nem princípio vitalista, nem ontologia no cosmos, e ainda menos na história da vida. Triste materialismo? Não há decepção, não há desencanto num Darwin que se deslumbra com a evolução ao observar: «Não existe mais grandeza em considerar que o Homem possa ter nascido de uma tal aventura?»”
Pascal Picq, Nova História do Homem, Círculo de Leitores. 2009. pp. 300-303

***

A aprendizagem continua. Do caos nasce o cosmos e do cosmos o caos. A vida é organização no seio da entropia mas, para evoluir, produz mais entropia.
Heraclito não podia estar mais certo, com a sua fórmula: «viver de morte, morrer de vida.»

sábado, julho 09, 2011

quarta-feira, julho 06, 2011

De piolheira a lixeira, em pouco mais de 100 anos

Ah, Portugal! Agora, nem de plástico és (que é mais barato)! És lixo! Dizem lá nas agências financeiras norte-americanas. Já nem te querem comprar. Abaixo disto, só a reciclagem. Então sim: um Portugal novo e reciclado! Até lá teremos de penar na lixeira. (Lixeira para a especulação financeira, entenda-se, que aqui também não se diz mal de Portugal).

domingo, julho 03, 2011

A justa distribuição dos sacrifícios

Todos os rendimentos, superiores ou iguais ao salário mínimo nacional, serão alvo do imposto extraordinário, excepto os rendimentos de capitais. Cá está a justa repartição dos sacrifícios de que falava o nosso Presidente! É justo!

Argumento de um comentador na SIC Notícias: assim é, pois caso contrário, os investidores poderiam fugir com o dinheiro para o estrangeiro, o que prejudicaria a economia nacional. Brilhante!

O trabalho, infelizmente, não tem o mesmo grau de mobilidade do capital financeiro. Não pode circular com a mesma celeridade. Consequência: taxa-se o trabalho, ficando livre o capital financeiro.

Isto está mesmo a pedir uma bernarda.

Ah plácido povo que a tudo te submetes!

***

Outra:

Um dia depois de ser anunciado o imposto extraordinário que permitirá ao Estado arrecadar 800 milhões de Euros, publica-se um despacho em Diário da República que determina um empréstimo ao BPN no valor de 1 000 milhões. Os fiadores somos nós, contribuintes.

Tudo isto é revoltante.

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