domingo, agosto 14, 2011

Sinais preocupantes na Europa

Existem sinais preocupantes na Europa. Manifestações de intolerância, fundadas no medo. Esses sinais vão desde o encerramento de fronteiras na Dinamarca e temporariamente, no Sul da Itália, até à intolerância por parte de fanáticos religiosos islâmicos que habitam em França e que querem impor a sua lei à sociedade que os acolheu e que os tolerou. Agricultores franceses atacam camiões espanhóis carregados de produtos agrícolas e os espanhóis não querem ver desempregados romenos no seu território (romenos em Espanha, só com contrato de trabalho, estudantes ou turistas). E os exemplos poderiam prosseguir.

A intolerância que cresce é causada pelo medo. E de que têm medo os europeus? (E o que é um europeu? Mas essa é outra questão.) Como é referido nesta interessante reportagem no New Tork Times, os europeus, no caso, holandeses, temem o Islão, como se fosse uma religião monolítica; o terrorismo; a globalização; o desemprego; a crescente influência dos burocratas da União Europeia de Bruxelas; a austeridade; os perigos para euro devido à dívida grega, portuguesa, irlandesa, espanhola e agora italiana; e a criminalidade juvenil especialmente entre os jovens imigrantes.

É medo a mais e do medo nunca nasceu coisa boa.

Os acontecimentos deste Verão, na Noruega, no Reino Unido, na Itália e noutros lugares desta Europa terão repercussões. É uma questão de tempo e já se sente qualquer coisa no ar.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Telavive

Telavive, Israel, Sábado, 6 de Agosto

Quantas praças mais, teremos de encher?
Quantas avenidas teremos de percorrer?
Quantas gargantas ainda, terão de gritar?

Quando é que irão perceber que um trabalhador é mais do que um mero factor de produção? Que é mais do que um elemento numa organização? Que é um homem, acima de tudo um homem?

Que economia é esta?

domingo, agosto 07, 2011

A língua

Aqui não se escreve de acordo com o novo acordo ortográfico. Aliás, vai demorar algum tempo até que nos habituemos a essa trampa. Deviam ter feito um referendo antes, pois a língua é património dos seus falantes e por isso devem ser eles a ter a última palavra. De qualquer forma, a ser alterada, não devia sê-lo por decreto, mas sim pela via democrática directa (que isto da democracia representativa, também já deu o que tinha a dar). Mas, diga-se de passagem: uns "iluminados" decidiram alterá-la e a maioria acatou sem tugir nem mugir. Coisa de bovinos.

Leituras do mundo

Tentamos observar o mundo de um lugar distanciado. Procuramos perceber o futuro pelos actuais sinais. Lemos os sinais, mas é difícil compreender o seu significado. Não sabemos se o momento actual corresponde à aproximação de um crepúsculo – o crepúsculo americano e de todo o Ocidente - ou apenas de uma tempestade que, por certo, passará.

Se for um crepúsculo, sabemos que lhe sucederá a noite e depois, a alvorada e um novo dia. Mas se for este o caso, outro sol raiará.

terça-feira, agosto 02, 2011

A velha história da justificação para o roubo

«Para Locke, a propriedade individual é um direito natural que advém do facto de os indivíduos combinarem o seu trabalho com a terra: os frutos do seu trabalho pertencem-lhes, apenas a eles e a mais ninguém. Esta é a essência da versão lockeana da teoria do valor do trabalho. As trocas de mercado socializam esse direito quando cada indivíduo consegue obter um valor equivalente ao que criou, pela troca que realiza com outros indivíduos, que por sua vez também criaram valor. Com efeito, os indivíduos mantêm, expandem ou socializam o seu direito à propriedade privada, através da criação de valor e através do, supostamente, livre e justo mercado de troca. Esta é a forma através da qual a riqueza das nações é mais facilmente criada e o bem comum melhor servido. O pressuposto é, claro, o de que os mercados podem ser justos e livres, e, na clássica economia política, é assumido que o estado deverá intervir para garantir essa liberdade e justiça – pelo menos, isto é o que Adam Smith aconselhou os governantes a fazer. Mas existe um desagradável corolário da teoria de Locke: os indivíduos que não conseguem, ou falham na produção de valor, perdem o direito à propriedade (ou não a podem reclamar para si). O desapossamento das populações indígenas da América do Norte por “produtivos” colonizadores, por exemplo, foi justificada pelo facto de as populações indígenas não produzirem valor

David Harvey (2011), “The Future of the Commons”, Radical History Review, Issue 109 (Winter 2011) Pp. 104

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Nos dias que correm, o roubo continua a ser justificado pela velha teoria da economia política clássica, onde o fundamentalismo de mercado, vigorante entre nós, lança as suas raízes.

Na verdade, os indígenas da América do Norte foram desapossados pelos colonos, apenas porque estes queriam e podiam (por outras palavras, os colonos eram cobiçosos e mais poderosos). É óbvio que os índios também produziam valor. O valor que lhes bastava, até que um dia chegaram os colonos.

quinta-feira, julho 28, 2011

Os terroristas enquanto produtores de entretenimento

Diz Peter Sloterdijk, filósofo alemão, acerca do terrorismo (os sublinhados são nossos):

«Se compreendemos porque é que as circunstâncias trabalham a favor dos terroristas, podemos também fazer uma ideia mais precisa da nossa própria situação: melhor que muitos produtores de televisão, os bombistas compreenderam que os senhores dos cabos não podem produzir todos os conteúdos em estúdio e continuam a depender dos contributos de acontecimentos provenientes do exterior. Passaram a sabê-lo por experiência própria: eles próprios oferecem os acontecimentos mais procurados, pois possuem praticamente um monopólio enquanto contet providers no sector da violência real. (…) Tal significa que a agressão continua a vender-se e que quanto mais impiedosa for, maior é a recompensa mediática. Desalmadamente divertidos, os agressores percebem os motivos disso: os sistemas nervosos dos habitantes do palácio de cristal podem ser ocupados sem dificuldades por quaisquer invasores, pois os referidos ocupantes, entediados com o palácio, continuam à espera de notícias do exterior.»

Peter Sloterdijk, O Palácio de Cristal, Relógio D’Água, 2005, pp. 195

É esse entretenimento que aqui recusamos. O nosso mundo não pode ser um palácio de cristal e nós não podemos comportar-nos como ocupantes entediados de tal palácio, ávidos por novos acontecimentos, consumidores de terror. O mundo não deve ser encarado como um palco, ou como um circo romano, onde as vítimas aguardam aterrorizadas a entrada dos leões para gáudio do público. É que as vítimas também somos nós.

***

«Podem [os terroristas] confiar no facto de que a única medida anti-terrorista que garantiria o êxito, a saber, o silêncio absoluto dos media quanto aos novos ataques (ou então a instauração de uma quarentena da informação que produzisse uma distância entre o atentado e o seu eco sensacional), seria inevitavelmente bloqueada, porque aqueles fariam questão de exercer o seu dever de informar

Peter Sloterdijk, O Palácio de Cristal, Relógio D’Água, 2005, pp. 196

Silenciar o terrorista e a sua obra, não significa enfiar a cabeça na areia, mas sim, adoptar a “única medida anti-terrorista” que garante o êxito da luta contra o terrorismo.

terça-feira, julho 26, 2011


Amy Winehouse (1983 - 2011)


segunda-feira, julho 25, 2011

O terrorista norueguês

A sua imagem não será aqui exposta e o seu nome não será proferido. Os textos que escreveu não serão aqui lidos, nem transcritos. Não será citado. Que seja julgado à porta fechada e que a sua voz não seja ouvida no mundo, para lá das paredes do tribunal. Que o seu nome seja esquecido e se perca rapidamente nas areias do tempo. Que não seja feita a vontade ao terrorista que procura a fama, a glória negra, distorcida, e a lembrança. Também aqui, não será considerado lunático porque o mal existe e há quem o esconda atrás de doenças mentais. Chamar louco ou demente a um assassino é, de certa forma, perdoar ou diminuir a sua responsabilidade no mal que causou porque passará a ser visto como um inimputável. Ora o mal é muito racional e muito humano, demasiado humano. Por isso não chamaremos animal ao assassino, por respeito aos animais não humanos. Que seja esquecido e jamais perdoado. Que não seja feita a sua vontade.

Assim procederemos doravante com todos os terroristas.

Não nos aterrorizarão.

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