domingo, dezembro 11, 2011

Vaticínio

Arrisco! Amanhã, segunda-feira (12-12-2011), os mercados bolsistas, linha avançada das agências de notação, vão começar a metralhar as economias da zona euro. Vai abrir tudo no vermelho (ou então passar ao vermelho, depois de abrir no verde). Uma ofensiva esperada face ao ultimato da S&P, de que iria baixar as notações de mui nobres e poderosos países se não houvesse entendimento e decisões substanciais na cimeira. A desunião da União será vista como um sinal de fraqueza que os lobos financeiros irão tentar aproveitar. O rebanho está agora reunido - mas não unido -, com medo, e uma ovelha negra abandonou o redil (ou o redil será o Titanic e a ovelha negra um rato? Não são eles os primeiros a abandonar o navio?).


A guerra continua: mercados vs Eurozona: e adivinhem quem está na linha da frente. E quem está a ganhar?

Aguardemos! (Oremos?!)

sexta-feira, dezembro 09, 2011

A Europa está sem líderes?!

"A Europa está sem estratégia e sem líderes". (Mário Soares)

Sem líderes?!

Olha aqui o líder.

Ainda alguém tem dúvidas?

Goste-se ou não, é ela quem manda.

Perguntem ao Sarkozy ou ao Cameron (que não quis brincar e foi posto fora da roda).

Ou então perguntem ao Passos, ao Monti ou ao Rajoi.

Enfim, são uns meninos.

A desunião da União

A União Europeia encontra-se perante uma tensão dialéctica entre a velha Europa e a nova Europa. Enquanto não for resolvida esta tensão, o impasse persistirá. Enquanto a União Europeia não se libertar dos fantasmas da velha Europa, jamais será uma Europa nova.


***

A velha Europa assoma-se uma vez mais e, nestes momentos de crise, sussurra aos ouvidos dos europeus e acicata-lhes as consciências. Alguns líderes políticos como James Cameron acenam com o velho linguarejar do veto em nome da defesa dos interesses nacionais (na verdade interesses neoliberais), como se fosse necessário proclamá-lo em alta voz. Teme que o directório franco-teutónico, pela alteração dos tratados, forme uma espécie de Império Continental e a partir daí ameace os interesses britânicos. Voltam a soar mais fortes os clarins dos velhos nacionalismos - Deutschland, Deutschland über alles!”, "Rule, Britannia!", etc. – cantados pela velha Europa na sua cacofonia de línguas que a todos ensurdece e desentende. Instalou-se a desconfiança entre os povos. O som cadenciado das botas cardadas, marchando sob o Arco do Triunfo numa tarde de Junho ainda está presente. Na Europa somos todos estrangeiros, somos todos “outros” e é isso que nos separa. Se nos agarrarmos a isso então é melhor esquecer o projecto de união dos povos desavindos.

Encontramo-nos portanto à beira da desunião, para gáudio dos norte-americanos. Triste espectáculo! É só ligar a CNN e verificar como se comprazem diariamente em parodiar a vitória da velha Europa sobre a nova. Eles começam a acreditar, no seu íntimo, que a União Europeia jamais se converterá nos Estados Unidos da Europa. Os europeus não se entendem. Chegada a hora da verdade, mostram-se divididos e hesitam em dar o passo que poderia levar ao nascimento de uma nova Europa.

domingo, dezembro 04, 2011

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Sócrates (1954 - 2011)

Em 1982 ainda não tinha ouvido falar de Sócrates, o filósofo, e muito menos do político, mas este, já o via passear glorioso pelos relvados. Um futebol inesquecível para jogos inesquecíveis.

Que descanse em paz.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Alvorada na Mancha


Entretanto já começavam a gorjear nas árvores mil espécies de coloridos passarinhos, que nos seus diversos e alegres cantos pareciam dar as boas-vindas e saudar a fresca aurora, que pelas portas e balcões do Oriente ia descobrindo a formosura do seu rosto, sacudindo dos seus cabelos um número infinito de pérolas líquidas, cujo suave licor, banhando as ervas, dava a impressão de serem elas que ressumavam e soltavam um branco e miúdo aljôfar; os salgueiros destilavam maná saboroso, riam-se as fontes, murmuravam os arroios, alegravam-se as selvas e enriqueciam-se os prados com a sua vinda.

Cervantes, Dom Quixote, Vol. II. Livraria Civilização Editora, 1999. Pág. 82-83.

Monasterio de Sal by Paco De Lucía on Grooveshark

Yellowstone

Doces como o algodão doce, as nuvens acariciam as colinas, à revelia de uma árvore só.

sexta-feira, novembro 25, 2011

«The grindadrap»: a estúpida tradição

Nas ilhas Faroé (Dinamarca), mantém-se o ritual de passagem dos rapazes à idade adulta, uma tradição que remonta ao século XI. O ritual é assinalado com a chacina de milhares de golfinhos.

quinta-feira, novembro 24, 2011

O trabalho dos escravos

A sociedade portuguesa precisa de serenidade e de trabalho.” José Relvas, Ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares à SIC em 24-11-2011

«Nunca ninguém me ouvirá a desincentivar a mobilização, mas, se reconheço a importância de se exprimirem, também reconheço bem como é importante para Portugal encontrar uma saída para a crise que resulta do nosso trabalho» Pedro Passos Coelho à SIC Notícias, 23-11-2011

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É fácil concordar com estas afirmações. Afinal parecem querer dignificar o nosso trabalho, o trabalho dos portugueses. Quem se opõe à dignificação do trabalho? O problema é que estes senhores valorizam o trabalho no discurso mas desvalorizam-no nas acções e nas medidas governativas que tomam. Ora as acções são mais reveladoras do que as palavras.

Se dizem valorizar tanto o trabalho, então por que razão tomam medidas que o desvalorizam? Por que razão baixam a remuneração do trabalho? Por que razão subtraem salários aos trabalhadores? Por que razão desincentivam o trabalho? (Ou será que se incentiva o trabalho pagando menos a quem o oferece?) Por que razão desincentivam as horas extraordinárias, desencorajando aqueles que gostariam de trabalhar mais? Por que razão desincentivam o trabalho nocturno? Por que razão não promovem o trabalho, na verdade? (É a crise, dizem, como se fossem os que sempre trabalharam os responsáveis por esta situação. Na verdade, onde estão os responsáveis?).

Se bem percebemos, querem que trabalhemos o máximo contra a mínima remuneração possível. Levando esta ideia ao extremo, para esta gente, o ideal seria que trabalhássemos sem nada receber. Zero! De graça, sem qualquer remuneração!

Não saberão que o trabalho é um meio e não um fim? Será que pensam e sentem como os cínicos que mandaram escrever no cimo dos portões dos campos de concentração “Arbeit macht frei”? Também diziam glorificar o trabalho, não é verdade? O trabalho dos escravos, que afinal não libertava coisa nenhuma.

quarta-feira, novembro 23, 2011

A argentinização de Portugal


(excerto do quadro Índice de Desenvolvimento Humano e seus Componentes, Human Development Report 2011, UNDP, 2011)

(Clique em cima do quadro para ampliar)

Prossegue a argentinização de Portugal. “Cavallo”* já temos: o nosso Ministro das Finanças. Mas porque digo eu isto? Há muito que navegamos rumo ao empobrecimento. Caímos em espiral no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano do PNUD. Há sinal mais evidente do que este? Em 1999, há 12 anos portanto, Portugal ocupava o 28º lugar e países como a Hungria ou a Polónia, há pouco saídos do comunismo, estavam abaixo (a Hungria ocupava o lugar 47º e a Polónia o 44º). Não foi preciso mais de uma década para que nos ultrapassassem: hoje Portugal ocupa o 41º lugar, a Hungria o 38º e a Polónia o 39º (para não falar doutros países do leste europeu como a República Checa, que ocupava o 36º em 1999 e que agora está em 27º!).
Afinal, parece que o comunismo não foi assim tão mau: o sistema educativo nesses países funcionava melhor do que nos países ocidentais capitalistas e o capital educativo deixado pelos regimes comunistas permitiu que esses países rapidamente recuperassem e ascendessem rumo ao desenvolvimento, quando passaram a viver sob regimes capitalistas e democracias liberais.
Resta saber se esse capital educativo dos tempos comunistas se manterá incólume face ao empobrecimento cultural associado ao consumo de massas capitalista e à decadência dos seus sistemas educativos públicos devido ao desinvestimento neoliberal.
De qualquer forma, a Polónia e a Hungria ultrapassaram-nos e uma das razões é o facto de o tempo médio de permanência no ensino ser maior entre Polacos e Húngaros do que entre nós, como se pode ver pelo quadro acima. Por outras palavras: os polacos e os húngaros são povos mais cultos do que nós.
Por sua vez, a Argentina, país da América do Sul, conhecido por ter embarcado em aventuras neoliberais sob o jugo do FMI, em 1999 estava em 39º do ranking do IDH. Hoje encontra-se no 45º lugar . Nós, para lá caminhamos.
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Notas:
(*) – Alusão ao antigo ministro da Economia argentino, Domingo Cavallo, que tomou medidas draconianas (e cavalares!) de austeridade, afundando ainda mais a Argentina num mar de empobrecimento e desespero.
Já o autor do interessante blogue Equação Base, parece ter outra perspectiva. Contenta-se com o facto de nos encontrarmos entre os países com um nível de desenvolvimento humano considerado "muito elevado", porém a sua análise não tem em consideração a evolução da posição de Portugal no ranking, que nos mostra que estamos a encaminhar-nos para um nível inferior de desenvolvimento. São leituras.

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