domingo, março 15, 2020

Peripatético sob ameaça



Hoje, pela manhã, entre a Praia da Rainha e a Praia do Rei, poucos eram os que se passeavam à beira-mar. Todos devidamente apartados (excepto alguns que iam aos pares), uns correndo, outros caminhando, passando bem à ilharga uns dos outros, não fosse o coronavírus andar por ali.

Depois, a rápida retirada em direcção ao recato do lar-bunker onde se consumiu o resto do domingo.

***

Desta vez o Titanic embateu num vírus, e entre o ir e o não ir ao fundo, lá se vai tentando fingir a normalidade.

***

Tenho-me lembrado nestes dias das palavras de George Steiner que disse que tinha uma certa imagem mental da verdade emboscada ao virar da esquina, à espera de que o homem se aproxime – e a preparar-se para lhe dar uma cacetada na cabeça*; e também de Urlich Beck e da sua Sociedade do Risco, a nossa sociedade do risco.

Estes tempos de excepção colocam-nos naqueles dias de aproximação de apocalipses, os dias do fim, em que é rompida a normalidade da rotina quotidiana. Mas é apenas isso no caso presente: a mera sensação de iminência de um fim.

O vírus não afundará o Titanic. Ficaremos somente um pouco mais conscientes do quão frágil é o navio em que navegamos face a essa verdade que a Natureza nos oferece: a de que estamos sós num universo hostil que só está à espera nalguma esquina que o homem se aproxime para lhe dar uma marretada na cabeça.

É que não era suposto estarmos aqui e contudo estamos.

___________________________
(*) George Steiner, Nostalgia do Absoluto, Relógio D’Água, 2003. Pág. 80 e 81.


domingo, fevereiro 23, 2020

sexta-feira, fevereiro 21, 2020

Até sempre, VPV

Vasco Pulido Valente (1941- 2020) 

Em primeiro lugar: muito obrigado, Vasco Pulido Valente!

Perdemos mais um excelente analista crítico da sociedade portuguesa. Uma voz necessária, e, muitas vezes, incómoda. Era um prazer ler as suas crónicas, mesmo quando as considerávamos cáusticas ou mordazes, ou até injustas. Mas era uma voz para ouvir com atenção.

Esteve entre nós, bloguers: escreveu num blogue chamado o "O Espectro". A blogosfera estava efervescente nessa altura. O link está ali em baixo nos "Saudosos Idos". É verdade: disparava em todas as direções, com a sua escrita acutilante, irónica e jocosa. Sobre Cavaco escreveu o seguinte, uma vez:


Ler os ditos de VPV era um puro prazer. 

Fica aqui a minha homenagem.

Até sempre, Vasco.

terça-feira, fevereiro 04, 2020

Até sempre, George Steiner






George Steiner (1929-2020)

Esvaziamos da sua humanidade aqueles a quem negamos a palavra. Tornamo-los nus e absurdos. O “silêncio de pedra” pode ser uma imagem literal e terrível do murmúrio confuso, ou na ausência de discurso, do “petrificado”. Quando o diálogo com os outros se quebra a Medusa domina o interior do nosso ser.

George Steiner (1971), No Castelo do Barba Ruiva, Relógio D’Água, 1992, Pág. 118.

Até sempre, George Steiner.

sexta-feira, janeiro 31, 2020

sábado, janeiro 11, 2020

Liberdade

Liberdade é não sentir medo.

                                        Nina Simone

(citada por Joacine Moreira, Expresso, Revista E, 28 de Dezembro de 2019, pág. 105)

quarta-feira, janeiro 01, 2020

terça-feira, dezembro 31, 2019

terça-feira, dezembro 24, 2019

Capital excessivo

O homem moderno, extenuado pela enormidade dos seus meio técnicos, é empobrecido pelo próprio excesso das suas riquezas (…). Um capital excessivo e, portanto, inutilizável.

Paul Valéry

citado por Umberto Eco, A Vertigem das Listas, Difel, 2009, pág. 169 

Etiquetas