Adriano Moreira (1922-2022)
Sem dúvida, é um dos nossos melhores que parte. Um venerando sábio.
«Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses todas as coisas que são vergonha e desgraça entre os mortais: roubos, adultérios, enganar o próximo…Os mortais acreditam que os deuses são formados à sua imagem e semelhança e usam roupas como as deles, e voz, e forma…sim, e se os bois, os cavalos ou os leões tivessem mãos, e pudessem pintar com elas, e produzir obras de arte como os homens, os cavalos pintavam deuses com forma de cavalos, e os bois de bois e faziam-lhes os corpos segundo os da própria espécie…Os etíopes representam os seus deuses pretos e de nariz achatado; os trácios dizem que os deuses têm olhos azuis e cabelo ruivo.»
Xenofonte
citado por Bertrand Russel, Pensamento e Comunicação, Correspondência
(1950-1968), Brasília Editora, 1971, p. 181.
Terá sido o universo a criação de um deus que o programou
para que evoluísse de forma a que, a dada altura, estivessem reunidas as
condições para o surgimento do Homem? (o que designam por “princípio
antrópico”) Não creio. Já uma evolução
do universo programado para o surgimento de vida inteligente, ou seja, com capacidade
de se questionar sobre a sua própria origem, existência e de um
criador, é uma hipótese a considerar.
O “princípio antrópico” é uma vaidade, como atesta
Xenofonte.
Mikhail Gorbachev (1931 – 2022)
Por alguns anos o céu aligeirou-se da ameaça de uma chuva nuclear, tudo graças a Gorbachev, homem imune ao apelo da “grandeza” – a grandeza da América, a grandeza da Rússia, a grandeza da França, a grandeza do Reino Unido, a grandeza disto e a grandeza daquilo, com que certos políticos enchem a boca para justificar determinadas opções de domínio do espaço, iludidos na vanglória de mandar. Mereceu o Prémio Nobel da Paz.
Mas o alívio que trouxe aos céus durou pouco mais de uma década. Putin encarregou-se de fazer regressar o terror nuclear, justificando-se com as linhas vermelhas que a O.T.A.N. ultrapassou na sua aproximação às fronteiras da Rússia.
Partiu Gorbachev, fica o equilíbrio do terror, agora mais periclitante.
O terceiro rio mais extenso do planeta, o mais extenso da Ásia, convertido num ribeiro seco. O que está a acontecer não é um fenómeno local ou regional, frequente nas regiões desérticas ou mediterrânicas, no Verão. É um fenómeno planetário. É preocupante. Mas estaremos verdadeiramente tão preocupados como deveríamos estar?