sexta-feira, outubro 08, 2010

A vingança dos mercados

O noticiário das 20:00 da RTP 1 abriu hoje com “o nervosismo dos mercados”. Estão “nervosos”, dizem, e é suposto que nós devamos tremer. Malandros dos mercados! O ministro Teixeira dos Santos ouve os mercados atentamente, mais do que a nós. Somos por isso governados pelos mercados.

No passado, os bancos financiavam-se com base nas poupanças dos seus clientes. Hoje financiam-se nos mercados bolsistas, que são autênticos casinos. O Estado também se financia, por isso, nos mercados financeiros e deles está refém.

Como os governos não regularam os mercados quando deviam, agora são os governos que são regulados pelos mercados. Governam ao sabor dos instáveis “estados de alma” das praças financeiras.

Andamos à deriva, ao sabor, não do vento, mas dos humores dos mercados.

quarta-feira, outubro 06, 2010

Salomé, maldita Salomé

Leon Herbo, Salomé, 1889

terça-feira, outubro 05, 2010

A sorte do mensageiro

Dizem que o primeiro a morrer é o mensageiro. O Baptista não escapou a essa sorte. Eis a sua cabeça, num prato, num excelente quadro de Caravaggio.

Caravaggio, Salomé, 1610

Mataram o mensageiro mas a mensagem não morreu. Sobreviveu-lhe e sobrevive, para todo o sempre.

Ainda a cruz

Cristo não morreu na cruz coisa nenhuma. Cristo viveu na cruz. Quando morreu já lá não estava. Se é que morreu.

Divagações sobre o Baptista


Leonardo da Vinci, São João Baptista, 1513-1516

Eis que Leonardo decidiu pintar um santo estrábico. O dedo indicador esticado é ofensivo em certas culturas. (Mas às vezes apetece esticar o dedo a certo tipo de gente, e não é o indicador).

Aponta o Baptista para o céu, parecendo querer indicar-nos a proveniência daquele que virá. Para onde olha o tolo? (Não me refiro ao Baptista). Para a cara do Baptista, para o dedo ou para o céu? (Diz um ditado, não sei se confuciano, que quando o sábio aponta para o céu, o tolo olha para o dedo). Estaria Leonardo a querer fazer de nós tolos? Onde está o céu?

Também a cruz está presente: saberia Baptista o destino daquele de quem anunciava a vinda?

segunda-feira, outubro 04, 2010

Irrisório

O Banco de Portugal, vem agora pedir-nos que poupemos. Daria vontade de rir, se o caso não fosse dramático. Quando o nosso rendimento disponível diminui acentuadamente devido às medidas do governo no âmbito do PEC III e quando grande parte da população está “com a corda na garganta” pede-se-lhe agora que poupe…Curiosamente, o Banco de Portugal não pede aos bancos que subam as taxas de juro das contas de poupança ou que baixem os spreads, para que dessa forma se incentive a poupança. O Banco de Portugal, não solicita ao governo para que aumente as taxas de juro dos certificados de aforro, ao contrário do que foi feito anteriormente. Não. O Banco de Portugal prefere antes fazer o mais fácil e o mais ridículo: “Portugueses, poupem que os tempos são difíceis!”

Acresce a tudo isto, a ideia do Banco de Portugal da criação de uma agência paralela e independente: mais uma instituição, mais uma despesa num tempo em que é preciso reduzir despesas, mais “jobs for the boys”, enfim…É coisa para gritar: “Tenham juízo, pá!”

sexta-feira, outubro 01, 2010

A cobardia da política

No país com as maiores desigualdades sociais da União Europeia o governo “socialista” decide aumentar o IVA, um imposto indirecto e cego à condição socioeconómica de cada um: ricos e pobres pagarão exactamente o mesmo, independente da sua condição económica e social. Ora isto é uma grande injustiça e uma cobardia.

É uma injustiça porque cada um devia pagar imposto na mesma proporção da sua riqueza, ou seja os ricos deviam pagar mais e os pobres menos. É uma cobardia porque com tal medida os governantes não ousam enfrentar os poderosos e as elites. Além disso, esta medida política veda aos pobres o acesso a alguns bens de consumo mais comuns. Um euro na carteira de um rico tem um peso diferente de um euro na carteira de um pobre. Os nossos “socialistas” esqueceram-se deste facto.

Não aumentaram o IRC dos bancos para níveis iguais ao das demais empresas; não reorganizaram empresas públicas, como a CP, que tem um chefe para cada dezassete trabalhadores; não extinguiram institutos públicos cuja principal função é assegurar o sustento dos que lá foram instalados pelos seus influentes amigos, bem colocados na política ou nos quadros da administração pública. Nem ao menos aumentaram o IRS dos escalões mais elevados. Preferiram aumentar o IVA, mais uma vez.

É uma política cobarde porque sacrifica quem não tem poder reivindicativo: os reformados e os idosos, os desempregados, os beneficiários do rendimento social de inserção, as famílias numerosas, etc.

Realmente, é de dar os parabéns ao Partido “Socialista”, tão preocupado com o interesse nacional, como se o interesse nacional não fosse o interesse da maior parte dos portugueses.

sábado, setembro 25, 2010

Surpreendam-nos! Taxem os bancos como as demais empresas.

Neste momento de aperto económico e financeiro o que esperam os nossos governantes para taxar os bancos a níveis percentuais iguais às demais empresas? Seria justo, não? Afinal os bancos, ao contrário das outras empresas, têm asseguradas múltiplas protecções contra a falência, a maior parte delas garantidas pelo próprio Estado com o dinheiro dos contribuintes. A necessidade de cumprimento rigoroso do défice e de obtenção de receitas, para além da redução da despesa, exige-o, mas os nossos governantes nem ousam tocar no assunto.

Será que o poder político está assim tão refém do poder económico e financeiro?

A esses, aos bancos, não atingem os “pacotes de austeridade”.

sexta-feira, setembro 03, 2010

O medo de ficar para trás

«Quando a competição substitui a solidariedade, as pessoas vêem-se abandonadas aos seus próprios recursos, dolorosamente escassos e manifestamente insuficientes. A deterioração e a decomposição dos laços colectivos convertem-nas, sem o seu consentimento, em indivíduos de jure, mas um destino opressivo e ingovernável conspira no sentido de lhes negar o ingresso na categoria de indivíduos de facto. Se nas condições de modernidade sólida, a desgraça mais temida era a impossibilidade para o indivíduo de se adequar à norma geral, hoje em dia, com o advento da modernidade líquida, o fantasma mais aterrador é o representado pelo medo de ficar para trás.»

Zygmunt Bauman (2006 [2005]), Confiança e Medo na Cidade, Relógio D’Água, pág. 17-18.

Etiquetas