quarta-feira, agosto 31, 2011

Top 10 dos factos reais mais deprimentes e como ficar feliz com os mesmos

Aproxima-se o momento das melancolias profundas. Afinal, no nosso hemisfério, os dias estão cada vez mais pequenos e, em breve, o Sol estará mais tempo abaixo do horizonte do que acima. Muitos, talvez a maior parte, regressam ao trabalho após as merecidas férias e começarão a sua luta quotidiana pela sobrevivência num ambiente cada vez mais hostil e competitivo. Pois bem. Abaixo listam-se dez factos verdadeiramente deprimentes, que poderão ser superados com felicidade se forem encarados da forma que se indica aqui: The Richard Dawkins Foundation - Discussions. Eis os dez factos deprimentes:

  1. Vamos todos morrer e não há nada que possamos fazer quanto a isso.
  2. Basicamente somos todos vassalos do nosso DNA.
  3. Não estamos sós (no universo), contudo estamos sós.
  4. Muito provavelmente não seremos milionários.
  5. As doenças são cada vez mais inteligentes.
  6. Existem demasiados estúpidos no mundo.
  7. O fim do mundo está próximo.
  8. Um meteorito pode atingir-nos a qualquer momento.
  9. As minhas crianças serão meio robôs.
  10. [A acrescentar pelo leitor – Não esquecer a resolução].

Reprodução e imortalidade

Li em tempos, não sei bem onde, talvez de Richard Dawkins, que nesta vida os vencedores são os que procriam. Sempre acreditei que a procriação poderia estar ligada, de alguma forma, à imortalidade. Afinal, são muitos os exemplos das espécies que, antes de morrer, gastam toda a energia vital na procriação. Os salmões por exemplo, a última coisa que fazem é subir um curso de água e desovar, ou seja, só morrem descansados após verem assegurada a sua descendência. Existem poucos casos, segundo sei, de salmões que tornam a descer o curso de água até ao mar. A maioria morre após a desova.

Ora bem, hoje este mito pessoal, da imortalidade associada à reprodução, foi desmontado pela leitura do seguinte trecho da obra do próprio Dawkins, O Gene Egoísta:

"A Rainha Isabel II descende directamente de Guilherme-o-Conquistador. Contudo é bastante provável que ela não possua nem um dos genes do velho rei. Não devemos procurar a imortalidade na reprodução.

Mas, ao contribuir para o património cultural do mundo, tendo uma boa ideia, compondo uma melodia, inventando uma vela de ignição, escrevendo um poema, isso poderá sobreviver, intacto, até muito tempo depois de os seus genes se terem dissolvido no pool comum."

Richard Dawkins, O Gene Egoísta, Gradiva, 2003, pág. 272

Assim sendo, os que procriam não são necessariamente os vencedores. Na realidade, os vencedores, na história de Dawkins, são os genes, quando conseguem replicar-se ao longo de milhões de anos.

terça-feira, agosto 30, 2011

Contra as multidões

Os melhores escolhem um só bem em troca de todos os outros, a glória eterna em troca das coisas mortais. A multidão sacia-se como as manadas.”

Heraclito

in Simone Weil, A Fonte Grega, Cotovia. 2006. Pág. 145

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Findo o Verão, as multidões regressam. Paulatinamente, mas regressam. É então hora de abandonar a cidade e rumar para sul. É tempo de voltar a passear nas praias vazias e mergulhar nas suas águas, ainda cálidas. Contemplar o mar, encarar a brisa... Aguardar na glória eterna, imortal.



segunda-feira, agosto 29, 2011

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Ponte medieval da Mizarela © AMCD

«Os romanos confiavam na acção da gravidade, aquele aqueduto está de pé porquanto tem tendência para cair - o que em engenharia é uma coisa admirável, ter de pé algo com tendência para cair. É exactamente o que encontramos no gótico, ou mesmo no românico, há uma pedra na abóbada ou no arco que impede de cair. Quanto mais tende a cair, mais aquilo aperta a pedra e menos cai.»

Agostinho da Silva, Vida Conversável, Assírio & Alvim, 1994, pág. 16

domingo, agosto 28, 2011

A Ele que foi Crucificado


«Querido irmão, o meu espírito dirige-se ao teu,
Não te preocupes por muitos dos que pronunciam o teu nome não te compreenderem,
Eu não pronuncio o teu nome mas compreendo-te,
Menciono-te com alegria, camarada, saúdo-te e saúdo os que te acompanham desde então, e também os que virão amanhã,
Para que juntos transmitamos o mesmo encargo e legado,
Nós, um pequeno grupo de iguais, indiferentes às terras, indiferentes aos tempos,
Nós que reunimos todos os continentes, todas as castas, nós que aceitamos todas as teologias,
Compassivos, receptivos, narradores dos homens,
Caminhamos em silêncio entre as polémicas e as afirmações, sem rejeitar os polemistas nem nada do que afirmam,
Ouvimos os gritos e as vociferações, chegam-nos as disputas, os ciúmes, as recriminações
Que se atiram peremptoriamente sobre nós e nos rodeiam, camarada,
Mas continuamos desligados e livres a nossa viagem sobre a Terra, deixando a nossa marca indelével no tempo e nas eras,
Até saturar o tempo e as eras, para que os homens e as mulheres das futuras raças e gerações possam ser fraternais e amantes como nós.»
Walt Whitman, Folhas de Erva - Antologia, Assírio & Alvim, 2003, pp. 305
tradução de José Agostinho Baptista
***

To Him that was Crucified

My spirit to yours, dear brother;
Do not mind because many, sounding your name, do not understand you;
I do not sound your name, but I understand you, (there are others also;)
I specify you with joy, O my comrade, to salute you, and to salute those who are with you, before and since—and those to come also,
That we all labor together, transmitting the same charge and succession;
We few, equals, indifferent of lands, indifferent of times;
We, enclosers of all continents, all castes—allowers of all theologies,
Compassionaters, perceivers, rapport of men,
We walk silent among disputes and assertions, but reject not the disputers, nor any thing that is asserted;
We hear the bawling and din—we are reach’d at by divisions, jealousies, recriminations on every side,
They close peremptorily upon us, to surround us, my comrade,
Yet we walk unheld, free, the whole earth over, journeying up and down, till we make our ineffaceable mark upon time and the diverse eras,
Till we saturate time and eras, that the men and women of races, ages to come, may prove brethren and lovers, as we are.

Walt Whitman (1819 - 1892). Leaves of Grass. 1900.

quarta-feira, agosto 24, 2011

Isso é que é a caridade

«Ter caridade para com uma pessoa não significa, como em geral pensam as pessoas, ajudá-la a viver com aquilo que nos sobra a nós. Caridade significa ver no outro a graça, charis, que está oculta pela sua miséria, pela sua falta de educação, pela sua deformidade física mesmo. O homem caridoso com o aleijado é aquele que vê nele a graça que podia tê-lo feito um magnífico atleta, se a sua sorte ou as suas condições de vida não o tivessem levado a ser apenas um fragmento de gente. E o homem que vê no miserável, no desgraçado que pede esmola ou naquele que leva uma vida miserável, a charis interior, a graça que com ele nasceu e que perdeu vivendo – isso é que é a caridade.»

Agostinho da Silva, Vida Conversável, Assírio e Alvim, 1994, pág. 33.

Há muita gente que se toma por caridosa, sem sequer saber o que a caridade é. O que fazem, na verdade, é assistencialismo.

Enfim, lemos Agostinho, mais uma vez, e aprendemos com ele.

sábado, agosto 20, 2011


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