Viver no subúrbio é viver à margem, sem ser necessariamente um marginal. No subúrbio vive-se à margem da cidade e à margem do campo, mas nunca, isso nunca, à margem da vida, nem à margem do mundo. O subúrbio agora é um lugar de liberdade, mais do que no centro da cidade, porque pertencer ao subúrbio é não pertencer a lugar nenhum e ao mesmo tempo, pertencer ao mundo inteiro. Vive-se na franja, entre a cidade e o campo, entre o país e o mundo e no meio da juventude empreendedora. A capital essa, envelhece e torna-se conservadora, porque sente o futuro escapar-lhe.
O subúrbio emancipa-se, portanto, gradualmente da cidade centro. Já lá vão os tempos em que se ia de visita à velha capital, centro do Império Ultramarino.
Agora é no subúrbio que a vida se agita e fervilha. Na verdade, o subúrbio está cada vez mais independente da cidade centro e quase já não precisa dela.
E a velha "nomenklatura" dos intelectuais da vetusta urbe ainda se julga no centro do mundo, quando mais não é do que uma espécie de tainhas que se acardumam e engordam frente às cloacas do Tejo. As suas memórias, revelam-se quando falam: sempre e ainda o Estado Novo. Mas essas vivências já não pertencem a esta nova geração ainda que nos queiram ancorar àqueles outros tempos. Parece que já não pertencem ao nosso mundo nem ao nosso tempo. Vivem já das suas memórias. Não vivem já do seu futuro. Mas isso são outras histórias.