sexta-feira, julho 04, 2008

A nação do gueto

Mais uma vez o gueto. Agora não à escala do bairro, nem da cidade, mas à escala de um país. O país dos israelitas, a nação do gueto! Das judiarias ao gueto de Varsóvia, de triste memória, e agora ao gueto de Israel, este parece ser o destino dos judeus errantes. E se recuássemos ainda mais no tempo, outros guetos por certo encontraríamos (em Jericó, na Babilónia, no Egipto faraónico…) encerrando este povo que se encerra e que agora impõe guetos aos outros – a faixa de Gaza não é mais do que um gueto...

Mas não sejamos lestos em apontar-lhes o dedo indicador da ignomínia. Na verdade pululam os guetos neste mundo a todas as escalas. Alguns muros invisíveis separam o Norte do Sul (a União Europeia fortaleza, os EUA e o muro que os separa do México, a Austrália rodeada por fossos oceânicos…). A outras escalas materializam-se outros guetos: muros e vedações rodeando condomínios fechados e restritos, onde se aprisionam os ricos e se segregam os pobres, tanto no Norte, como no Sul. Um paradoxo da globalização: à medida que aumenta a mobilidade humana, aumentam os muros e as divisões visíveis e invisíveis, segregadoras, obstáculos a essa nova liberdade de movimentos. Como se o Homem pudesse proteger-se de si mesmo e do contacto com os outros. Como se os muros pudessem conter os bárbaros, no grego sentido da palavra, quando os bárbaros somos todos nós.
P.S. - Outro paradoxo: a nação da diáspora, da dispersão pelo mundo é ao mesmo tempo a nação do gueto, da concentração. Dispersão e concentração reunidas num só destino.

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