Diz Peter Sloterdijk, filósofo alemão, acerca do terrorismo (os sublinhados são nossos):
«Se compreendemos porque é que as circunstâncias trabalham a favor dos terroristas, podemos também fazer uma ideia mais precisa da nossa própria situação: melhor que muitos produtores de televisão, os bombistas compreenderam que os senhores dos cabos não podem produzir todos os conteúdos em estúdio e continuam a depender dos contributos de acontecimentos provenientes do exterior. Passaram a sabê-lo por experiência própria: eles próprios oferecem os acontecimentos mais procurados, pois possuem praticamente um monopólio enquanto contet providers no sector da violência real. (…) Tal significa que a agressão continua a vender-se e que quanto mais impiedosa for, maior é a recompensa mediática. Desalmadamente divertidos, os agressores percebem os motivos disso: os sistemas nervosos dos habitantes do palácio de cristal podem ser ocupados sem dificuldades por quaisquer invasores, pois os referidos ocupantes, entediados com o palácio, continuam à espera de notícias do exterior.»
Peter Sloterdijk, O Palácio de Cristal, Relógio D’Água, 2005, pp. 195
É esse entretenimento que aqui recusamos. O nosso mundo não pode ser um palácio de cristal e nós não podemos comportar-nos como ocupantes entediados de tal palácio, ávidos por novos acontecimentos, consumidores de terror. O mundo não deve ser encarado como um palco, ou como um circo romano, onde as vítimas aguardam aterrorizadas a entrada dos leões para gáudio do público. É que as vítimas também somos nós.
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«Podem [os terroristas] confiar no facto de que a única medida anti-terrorista que garantiria o êxito, a saber, o silêncio absoluto dos media quanto aos novos ataques (ou então a instauração de uma quarentena da informação que produzisse uma distância entre o atentado e o seu eco sensacional), seria inevitavelmente bloqueada, porque aqueles fariam questão de exercer o seu dever de informar.»
Peter Sloterdijk, O Palácio de Cristal, Relógio D’Água, 2005, pp. 196
Silenciar o terrorista e a sua obra, não significa enfiar a cabeça na areia, mas sim, adoptar a “única medida anti-terrorista” que garante o êxito da luta contra o terrorismo.