sábado, fevereiro 25, 2012

“Podemos falir, mas falimos na praia.”

Fonte da Telha, 18/02/2012                                                                         © AMCD

A classe média passeia-se no areal, junto ao mar.

Don't Be a Jerk, Jonny by The Drums on Grooveshark

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Perguntem aos gregos, na rua.

Ao nível do contexto económico europeu (e por extensão, mundial), vivemos uma situação parecida com a que imediatamente precedeu a IIª Grande Guerra, quando Chamberlain ao aterrar no aeródromo de Heston a 30 de Setembro de 1938, vindo de Munique, anunciou esfuziante ter conseguido à última da hora um acordo com Hitler que garantiria a paz nos tempos vindouros. Como sabemos, a guerra teve início logo no ano seguinte, a 1 de Setembro de 1939, quando as forças armadas alemãs atravessaram a fronteira polaca.

Hoje, da mesma forma, anuncia-se aos quatros ventos um novo pacote de “ajuda” à Grécia que garantirá a recuperação daquele país e, finalmente, o seu crescimento económico e o afastamento da crise do horizonte, para todo o sempre. Pois bem, todos já percebemos: a “guerra” vem aí.

Perguntem aos gregos, na rua.

O anúncio de Chamberlain "aos quatro ventos", exibindo na mão direita o Acordo de Munique.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

O fracasso da escola

A cultura consumista-hiperindividualista não é a encarnação do horror cultural absoluto. Simplesmente, ressente-se da sua hipertrofia, de um triunfo que não se preocupa o suficiente em erguer barreiras ao seu poder. Assim, a era consumista não impede em absoluto o desenvolvimento de elites nem, mais amplamente, a boa escolarização dos jovens para que, enquadrados pela família, se salvem dos métodos escolares “expressivos”, das sitcom, dos chats, dos downloads de música, da publicidade das marcas. Quando desaparece o contrapeso familiar, a ordem consumista e a escola que lhe corresponde manifestam-se no seu fracasso. Sob a bandeira da democratização, a nova era cultural é profundamente “desigualitária”; é um êxito para alguns, para aqueles cujo enquadramento familiar põe limites à expansão e ao poder dissolvente da cultura cool; é fatal para outros, para todos aqueles que, não apoiados pela sua família, não encontram já nenhum suporte “institucional” para formar-se e aprender.

Há que repeti-lo: a nossa escola não funciona. Pede uma mudança, sem dúvida uma reforma intelectual profunda, para reorientá-la e colocá-la em condições de honrar as suas promessas de educação e mobilidade social

Lipovetsky, Gilles; Serroy, Jean (2010), La Cultura-Mundo – Respuesta a una Sociedad Desorientada. Editorial Anagrama. Barcelona. Páginas 171-172
(Traduzido da edição espanhola aqui pelo muchacho)

A obra existe em Portugal:

Lipovetsky, Gilles; Serroy, Jean (2010), A Cultura Mundo – Resposta a Uma Sociedade Desorientada. Edições 70.

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Ainda aprendemos e ensinamos na anacrónica escola da Era Industrial. A escola ainda funciona como uma espécie de linha de montagem. A entrada e saída de alunos e professores nas e das salas de aula, por exemplo, faz-se ao ritmo de pavlovianas campainhas (quais sirenes fabris). E o conhecimento nas salas de aula ainda se transmite em doses empacotadas. Isto quando fora da escola (e dentro dela também) e em todo o lado, a informação se encontra disponível para quem a queira colher. Informação omnipresente, mas também excesso de informação. Selvas de informação onde nos perdemos e enredamos. Mas já não a Era do deserto da informação. Que fazer então? Se vivemos na Era da Informação, porquê uma escola da Era Industrial? O resultado de tudo isto é a promoção de uma reprodução social que mantém os pobres na pobreza e os ricos na riqueza (e não falamos apenas da pobreza material). E não me venham com essa de que pobres sempre haverá. Mas era suposto que a escola enriquecesse? Era (e mais uma vez não falamos de riqueza material)! Mas neste jogo jogam sempre outros factores, não é verdade? Muito se esforçam os que dentro da própria escola laboram, mas a questão transcende-os, pois esta escola é demasiado importante para que seja deixada apenas ao cuidado dos que dela bem cuidam e estimam.

Esta escola, tal como existe, não honra efectivamente as suas “promessas de educação e mobilidade social”. Antes pelo contrário, contribui para a manutenção das desigualdades sociais e para a reprodução social.  É assim que as elites o desejam, não vá a sua posição ser posta em causa pela mobilidade ascensional dos filhos da ralé. Não vá deixar de haver ralé. É que a ralé afinal é precisa. Afinal, como dizia Almeida Garret, que não consta que fosse comunista: quantos pobres são necessários para se produzir um rico?

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

O que aconteceu naquele dia em Cajamarca

John Everett, Pizarro Seizing The Inca of Peru, 1846

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Excerto da obra de Jared Diamond (1997), Armas Genes e Aço:

O que aconteceu naquele dia em Cajamarca é bem conhecido, visto ter sido registado por escrito por muitos participantes espanhóis. Para termos uma ideia daqueles acontecimentos, vamos ressuscitá-los combinando excertos de relatos de seis companheiros de Pizarro, incluindo os seus irmãos Hernando e Pedro, testemunhos oculares:

domingo, fevereiro 19, 2012

Rumos e acontecimentos

Nos momentos de crise, de verdadeira crise, existem dois tipos de pessoas que se distinguem quanto às decisões que tomam e às acções que empreendem, em função da análise que realizam da sua circunstância ou, se quisermos, da realidade: as que pressentem, ou percebem antecipadamente, para onde os acontecimentos as poderão levar, e as que acabam por ser levadas pelos acontecimentos.

Um mundo multipolar?

Na realidade ainda não estamos lá. Vivemos na Era da Hiperpotência, que teve início com o findar da Guerra Fria, quando deixou de haver duas superpotências e passou a existir apenas uma. O que temos hoje? Uma hiperpotência decadente em trajectória descendente e um conjunto de potências emergentes em trajectória ascendente.

sábado, fevereiro 18, 2012

Scrat?


O cínico do Sloterdijk


O filósofo Peter Sloterdijk, cinicamente, dispara sobre todo o tipo de militantismo. O militante é um colérico, um ressentido, um activista revolucionário, ansioso por reconhecimento e acção, que se agita e se organiza em partidos e movimentos[1] – reporta-se também aos actuais “movimentos sociais no capitalismo global”. O Partido é, para Sloterdijk, um banco de cólera e de ira que pretende capitalizar ainda mais esses (res)sentimentos, de forma a fazê-los explodir no momento considerado mais oportuno, a mando de um líder, de um comité coordenador ou de um comité revolucionário. O histórico Partido Comunista é visado pelo filósofo, mas não só o Partido Comunista: refere-se principalmente aos “partidos políticos ou movimentos situados na ala esquerda do espectro político” (Sloterdijk 2010: 161), se bem que aluda, noutro lado, ainda aos militantes nacionais-socialistas. No entanto, depois deste tratamento cínico, particularmente em relação a toda a esquerda que ainda mexe - a ala política que representa os desfavorecidos, os explorados, os expropriados, os sem-terra e os injustiçados deste mundo – o filósofo sai-se com este belo naco de prosa relativa ao capitalismo, digna de realce (Sloterdijk 2010: 162):

A verdadeira missão do capital consiste em assegurar constantemente o prosseguimento alargado do seu próprio movimento. Tem por vocação derrubar todas as situações em que as barreiras à exploração, como os usos e costumes e a legislação complicam a sua marcha vitoriosa. Assim sendo, não há nenhum capitalismo sem a propagação triunfal desse desrespeito a que os críticos da época dão desde o século XIX o nome pseudofilosófico de «niilismo». Na verdade, o culto do nada mais não é do que o efeito secundário inevitável do monoteísmo monetário, para o qual todos os outros valores só são ídolos e simulacros.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Caos em Atenas

Caos em Atenas, 13-02-2012

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Whitney Houston (1963 - 2012)


Greatest Love Of All by Whitney Houston on Grooveshark

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Revolucionários sírios




Longa vida aos que lutam sempre e não se submetem nunca aos opressores.

Notícias da desindustrialização na Europa, esta semana (com link):


Mitsubishi deixa a Europa. Resultado: 1500 desempregados, 1500 famílias com os seus rendimentos familiares coarctados na Holanda. São mais de 1500 pessoas, como é óbvio.




A Renault inaugura fábrica em Marrocos. Neste caso destaca-se o facto da Renault criar novos postos de trabalho em Marrocos e não em França.

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A Europa desindustrializa-se e a indústria deslocaliza-se para os países onde consegue produzir o mesmo ou mais, por um custo menor. A ideia é como sempre, aumentar a margem de lucro, à custa dos baixos salários praticados no mundo menos desenvolvido. Lá onde se vive ainda numa espécie de miséria da Era Vitoriana dos tempos de Charles Dickens. Lá, onde os direitos laborais (e humanos) ainda não foram conquistados e onde a liberdade ainda não mora. Lá, onde ainda se pode explorar. Lá, na terra da servidão.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Ninguém pára o Bashar


Não, não é uma orquestração da imprensa internacional pró-Ocidental.

São as vítimas que falam, e falam alto e gritam de dor e de pranto. Ouvimo-las na nossa sala de jantar e já se contam aos milhares.

Se ainda não é uma guerra civil, para lá caminha. As sementes foram lançadas.

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Caem os ditadores no Próximo e do Extremo Oriente e o processo ainda não cessou.

Primeiro o Sadam, depois o Ben Ali, o Mubarak e a seguir o Kadafi.

Seguir-se-á o Bashar, que aprendeu com o seu falecido pai a não ceder nunca, nem que o sangue do seu povo tenha de correr nas ruas. É uma questão de auto-preservação. Também o pai massacrou, por vezes, quem se lhe opunha. Mas naquele tempo pouco se sabia e era mais fácil encobrir os hediondos crimes. Mas hoje sabemos. As novas tecnologias impossibilitam a ocultação dos massacres e dos bombardeamentos. Ouvimos os obuses que riscam os céus da Síria na nossa sala de jantar. Mas o Bashar não transige. A mínima cedência é o fim e ele sabe-o. Se entreabrir um pouco a porta, virá a enxurrada. Se transigir um pouco, os que se lhe opõem, verão nisso um sinal de fraqueza e cairão sobre ele e sobre o regime. Ele é o regime.

 Então o Bashar bombardeia o seu próprio povo.

Ninguém pára o Bashar.

Por agora.

domingo, fevereiro 05, 2012

"Who do you think you are?"


Que ousadia! Que ousadia!
Proferir uma poesia.

Who do you think you are? 
Digo eu para comigo mesmo.

O Dia Mundial de Tocar Banjo


Se há dias para tudo,
Porque não para este?
Por certo soariam banjos,
Em toda a esfera celeste.

Como eu amo o vento Leste
Que vem no Verão e tudo abrasa.

E do céu desceu um arcanjo,
Animado, a tocar banjo.
E assim foi proclamado
O dia tão aguardado.
Qual guitarra, qual fado?
Veio de banjo, o anjo armado.




I Wanna be Around My Baby All the Time by Bennie Moten on Grooveshark


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