
Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água.
2011. Pág. 298
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Naquele tempo a morte assomava-se
sempre no horizonte. Estava sempre presente e, muitas vezes, aproximava-se
sorrateira. A vida terrena era breve. Cristo apareceu então, proclamando a vitória
da vida sobre a morte. Essa crença funcionou entre os cristãos como uma espécie
de argamassa muito forte que os mantinha unidos: a Fé. Contra a morte e contra
o Império. Entravam no circo romano cantando, momentos antes de serem
chacinados. Mas não soçobravam. Por isso o Império ruiu.
Hoje a morte está mais distante.
Assoma-se na TV. A argamassa da Fé enfraqueceu e o cristianismo também.
A Fé do cristianismo está hoje
tão enfraquecida na Europa, que se fosse confrontada com o poder dos
imperadores, não sobreviveria sequer cinquenta anos, diz Sloterdijk. Na verdade,
o cristianismo já pouca oposição revela face aos novos impérios sem rosto que
dominam o nosso mundo.
Parece que ao alinhar tantas
vezes com os impérios, foi o cristianismo que enfraqueceu.