sábado, maio 12, 2012

A desagregação do cristianismo


«Enquanto o povo judeu foi vencido e disperso e entrou na amarga segunda metade da sua história – em que o seu modelo poderia ter sido mais Ahasver do que David -, o cristianismo prosseguiu a resistência judaica contra o império romano a outro nível. O cristianismo começou por se tornar uma grande escola de resistência, da coragem e da fé encarnada; se o cristianismo fosse na época aquilo que é hoje na Europa, não teria sobrevivido sequer cinquenta anos. Durante o império romano, os cristãos tornaram-se a tropa de elite de uma resistência interior. Ser cristão então significava não se deixar intimidar por nenhum poder no mundo, sobretudo pelos imperadores-deuses romanos arrogantes, brutais e amorais cujas manobras político-religiosas eram perfeitamente conspícuas

Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água. 2011. Pág. 298

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Naquele tempo a morte assomava-se sempre no horizonte. Estava sempre presente e, muitas vezes, aproximava-se sorrateira. A vida terrena era breve. Cristo apareceu então, proclamando a vitória da vida sobre a morte. Essa crença funcionou entre os cristãos como uma espécie de argamassa muito forte que os mantinha unidos: a Fé. Contra a morte e contra o Império. Entravam no circo romano cantando, momentos antes de serem chacinados. Mas não soçobravam. Por isso o Império ruiu.

Hoje a morte está mais distante. Assoma-se na TV. A argamassa da Fé enfraqueceu e o cristianismo também.

A Fé do cristianismo está hoje tão enfraquecida na Europa, que se fosse confrontada com o poder dos imperadores, não sobreviveria sequer cinquenta anos, diz Sloterdijk. Na verdade, o cristianismo já pouca oposição revela face aos novos impérios sem rosto que dominam o nosso mundo.

Parece que ao alinhar tantas vezes com os impérios, foi o cristianismo que enfraqueceu.

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