A Zona Euro está organizada (ou deveremos dizer, desorganizada?) como uma espécie de condomínio vertical com
dezassete condóminos e, pasme-se, com dezassete administradores. Ora assim não
há condomínio que funcione. Para que funcione, tem de haver um só
administrador, como é óbvio, ou seja, um só Governo. Caso contrário, a Zona
Euro continuará a oferecer o flanco à especulação financeira, que vai
explorando as fraquezas deste disfuncionamento.
Neste edifício onde as potências económicas ocupam os
andares cimeiros e os países periféricos os andares de baixo, ninguém está a
salvo do fogo que vai consumindo já o rés-do-chão. Mais tarde ou mais cedo, os
países do topo acabarão por ser atingidos, como peças de dominó que tombam em
cadeia.
Até agora não houve um só líder político que confrontasse com seriedade os demais relativamente à opção que tem de ser tomada: ou se desfaz a Zona Euro e voltamos à velha Europa babilónica das nações rivais, ou se avança para uma Federação multinacional, aprofundando-se ainda mais a integração política na União. Assim como estamos, os problemas vão-se avolumando: apaga-se um fogo aqui, surge outro acolá. E disto não saímos.
Embora a crise não se restrinja à Zona Euro, esta, neste contexto, encontra-se bastante fragilizada e por isso é um alvo apetecível para os ataques especulativos (há gente que está a ganhar muito dinheiro com isto, e nós, cidadãos e contribuintes europeus, estamos todos a perder e a pagar, cada vez mais).
A criação da Zona Euro, há que assumi-lo, foi um erro. Mas parece ser um
erro que ninguém quer assumir. E agora, o que fazer? Ou se bate em retirada, ou
se avança a todo o vapor. Aqui é que não podemos ficar. Parece que só falta a
coragem, ou a liderança política que nos tire deste atoleiro. Mas se assim é,
nesse caso teremos de ser nós a sair disto. Teremos de ser nós, europeus, a sair pra a
rua.