Se há algum período da história de
Portugal que se assemelha ao actual momento do país (qual país?
pobre país?), não tenhamos dúvidas, é o do domínio filipino, esse entre 1580 e
1640, quando Portugal não era Portugal, era outra coisa qualquer, uma região
dum vasto império onde o Sol nunca se punha. Vem agora o Sr. Primeiro-ministro traçar paralelos entre o nosso tempo e o tempo do Gama, quando o navegador começava a sentir os ventos favoráveis que impeliam paulatinamente as suas naus em direcção à Índia, mesmo contra a corrente dominante. Tenha juízo. Os ventos são
mais do que desfavoráveis e sopram no mesmo sentido da corrente avassaladora
da crise internacional do capitalismo. Empurram-nos para o abismo. Este Governo dá mostras de que não sabe bem para onde vai, e, como nos diz o
grande Séneca, velho mestre estóico: não há ventos favoráveis para quem não sabe
para onde vai. O fim de Portugal, enquanto país livre e independente, já foi. Mas
muita gente ainda não se deu conta? Isto já não é Portugal, é outra coisa
qualquer.
Agora precisamos, isso sim, de restaurá-lo,
como tão bem sabemos fazer, mas para tal é preciso aguardar pelo tempo certo.
Acabaremos também por ter os nossos defenestrados. É uma questão de tempo.