Os rendimentos
do trabalho, entre outros, continuam a ser sugados, como se confirmou hoje,
mais uma vez. Essa subtracção com origem na expansão descontrolada da
super-bolha especulativa de 2008 – um autêntico buraco negro criado
inadvertidamente pela especulação financeira na qual se envolveram os bancos e
outras instituições financeiras, arrastou atrás de si, inicialmente, os “fundos
de pensões dos trabalhadores, as poupanças das famílias, as primeiras e
segundas amortizações e as reservas bancárias” (Edward Soja, 2009). O capital financeiro
desbaratado na economia de casino especulativa superou então, em valor, a soma
do PIB de todos os países do planeta. E é esta a verdadeira magnitude do
problema. Esta é a razão de fundo pela qual são cada vez mais atingidos os
salários e outros rendimentos gerados na economia real assim como as pensões.
Tudo é sugado para esse buraco negro, pois os bancos e as instituições financeiras
precisam recuperar as suas perdas. Contudo, o buraco é demasiado grande e é por
isso que esta história não acaba aqui…
Aguardemos os próximos capítulos.
Abaixo
traduz-se um excerto de um texto de Edward Soja (2009), sobre a verdadeira
magnitude do problema (optou-se por inserir depois o excerto original, pois a
tradução pode conter sempre imperfeições, pelo que se sugere a consulta do
original).
Diz então
Edward Soja (2009):
«O que
aconteceu em 2008 girou em torno desta versão enormemente expandida e
distorcida do capital financeiro, melhor definido através do acrónimo
largamente usado FIRE – “Financial
services, Insurance and Real Estate” (serviços financeiros, seguros e
imobiliário). A contribuição do sector FIRE para o produto interno bruto e para
o emprego geral, cresceu a uma taxa extraordinária nas últimas três décadas,
contudo o seu de desenvolvimento para lá dos limites normais da economia real
foi ainda mais extraordinário. A “bolha” da economia baseada no crédito foi-se
insuflando com triliões de dólares agravada com valores de troca fictícios na
forma de “hedge funds, credit default
swaps, private equity funds” e outras formas electronicamente recicladas de
dinheiro e crédito. A actividade
bancária tradicional, a qual tinha sido tão drasticamente reestruturada e
reorganizada ao longo dos últimos vinte anos ao ponto de tornar-se quase
irreconhecível, foi absorvida pela bolha em expansão a qual se tornou muito
maior do que a combinação de todos os produtos internos brutos de todos os
países da Terra.
Os fundos de
pensões dos trabalhadores, as poupanças das famílias, as primeiras e segundas
amortizações e as reservas bancárias – qualquer fonte de capital, ainda não absorvida
pelos investimentos de alto risco, foram sugados por esta super-bolha virtual e
desregulada dos serviços financeiros, seguros e imobiliário. A ideologia
neoliberal, posta em prática nos anos Tatcher-Reagan e acelerada nas últimas
duas décadas, espalhou o evangelho da privatização, da desregulação, do “pequeno”
governo, [o que abdica da sua função de estado social ou apoio social], da
magia do mercado em quase todo a parte no mundo, facilitado pela revolução das
tecnologias de informação e comunicação, transmitido através da globalização do
capital, do trabalho e da cultura, e mantido por exércitos ideológicos de spin doctors. Quase toda a gente
acreditou. Afinal, a palavra “crédito” deriva da palavra latina credo, ou seja, “acredito”.»
Edward Soja, “Resistance after the
Spatial Turn” in
Jonathan Pugh (Edit.), What is Radical Politics Today?,
Palgrave Macmillan, 2009, pág. 70-71
(traduzido por
AMCD, os sublinhados são nossos)
Segue-se o original:
«What happened in 2008 revolved
around the breakdown of this enormously expanded and distorted version of
finance capital, defined best in the widely used acronym of FIRE, Financial
services, Insurance and Real Estate. The FIRE sector’s contribution to the
gross national product and to overall employment grew at an extraordinary rate
in the past three decades, but what developed outside the normal limits of the
real economy was even more amazing. A ballooning credit economy became bloated
with trillions of dollars’ worth of fictitious exchange value in the form of
hedge funds, credit default swaps, private equity funds and other
electronically recycled forms of money and credit. The traditional banking
industry, which had been so drastically restructured and reorganized over the
previous twenty years as to be almost unrecognisable, was absorbed into the
expansive balloon which came to be worth much more than the combined gross
national product of every country on earth.
Sucked up into this virtually
unregulated FIRE-fed super-bubble were worker pension funds, household savings,
first and second mortgages and bank reserves – any source of capital not yet
absorbed into high-risk investments. Neo-liberal ideology, pushed forward
initially in the Reagan–Thatcher years and accelerating over the past two
decades, spread a gospel of privatisation, deregulation, devolutionary ‘small’
government and the magic of the market nearly everywhere in the world, facilitated
by the revolution in information and communications technology, broadcast via
the globalisation of capital, labour and culture, and maintained by armies of
ideological spin doctors. Nearly everyone believed. After all, the word
‘credit’ is derived from the Latin credo, I believe.»
Edward Soja, “Resistance after the
Spatial Turn” in
Jonathan Pugh (Edit.), What is Radical Politics Today?,
Palgrave Macmillan, 2009, pág. 70-71