quinta-feira, novembro 01, 2012

Outra vez o Bagão, (agora no programa do Mário Crespo)

Ontem, no programa “Jornal das 9” da SIC Notícias, Mário Crespo (nem sei como ainda tenho pachorra para o ver) recebeu Hélder Rosalino, Secretário de Estado da Administração Pública, e antes da intervenção do Secretário de Estado, lá decidiu introduzir uma peça antiga, de 2010, em que o então Ministro das Finanças e da Administração Pública, Bagão Félix, argumentava falaciosamente que cerca de 70% da população portuguesa estaria de alguma forma dependente, directa ou indirectamente, do Estado (!). A dita peça pode ser vista, ainda que cortada em partes essenciais, que alguém quis esconder, AQUI.

Onde está a falácia? Está no facto de Bagão ter omitido que, na verdade, também o Estado depende dos que para ele trabalham e não só. O Estado, por exemplo, depende tanto do polícia, do professor, do juiz, da enfermeira, do militar etc., como estes daquele. Estes homens e mulheres vendem o seu trabalho ao Estado, exactamente porque o Estado precisa deles e não necessariamente o contrário, como argumentava o “brilhante” Bagão. Aliás, até os pensionistas, noutros tempos, quando trabalhavam e descontavam, também o Estado precisava deles e é por isso que agora têm direito à justa pensão. Mais, alguns dos que realmente dependem, ainda que de forma indirecta, do Estado, como as crianças ou os estudantes, também desses um dia o Estado precisará, ora como contribuintes, ora como funcionários ora como futuros cidadãos.


Mas como agora tudo vale, na sanha neoliberal de reduzir o Estado ao Estado mínimo, ou se quiserem, de “refundar o Estado”, não há como começar, desde já, a contaminar a opinião pública com falácias como a de que o Estado é parasitado por toda a gente, incluindo os que nele trabalham ou trabalharam e descontaram. Para os falaciosos, o Estado tem de alijar-se destes parasitas, nem que seja rasgando velhos contratos.

Ora feita a introdução no programa televisivo do Mário Crespo, estava preparado o terreno para o Secretário de Estado dar largas à argumentação da necessidade de se proceder a cortes e mais cortes, que o Estado social, segundo ele e o Ministro das Finanças, é demasiado luxuoso para as parcas contribuições dos contribuintes portugueses. É que agora é preciso “refundar” o Estado! Mas como - é o dilema desta gente - senão cortando nas carnes? É que se cortarem nas gorduras, serão eles, os amigos, enfim, as nomenklaturas, os atingidos. Então que se lixe a Constituição. Descobriram agora, dizem eles, que é possível refundar o Estado à revelia da Constituição. Ainda assim, não deixam de piscar o olho ao PS, para a coisa seja mais fácil e seja partilhado o prejuízo. O PS percebeu. Pelo menos, assim parece.

Enfim, é coisa para dizer: refundem, refundem, meus amigos. Cá estaremos nas eleições, se não for antes, para vos dar um bom chuto no traseiro. Que se lixem as eleições, não é verdade? Pois cá vos esperamos. Que venham as eleições.

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