Pátria
Serra!
E qualquer coisa dentro de mim se
acalma…
Qualquer coisa profunda e
dolorida,
Traída,
Feita de terra
E alma.
Uma paz de falcão na sua altura
A medir as fronteiras:
- Sob a garra dos pés a fraga
dura,
E o bico a picar estrelas
verdadeiras...
Miguel Torga, Diário, Vol. II
(Gerês, Pedra Bela, 20 de Agosto de 1942)
(Gerês, Pedra Bela, 20 de Agosto de 1942)
***
Também aqui as serras, mas sem fragas,
São como vagas petrificadas,
Que nos embalam e enlaçam
No torpor das madrugadas.
Afinal, pensávamos nós,
Que estávamos sós defronte do mar.
Tão equivocados estávamos,
Pois nele já nos encontrávamos.
Por isso nos era ele tão familiar.
No mar lançámos os nossos fados.
E do mar colhemos tornados.
Não!
Este não é o Algarve que julgávamos conhecer.
Do mar insondável, por vezes,
Soavam murmúrios ao entardecer.
Almas familiares de velhos pescadores.
Agora, rodopiantes tornados,
avassaladores...
AMCD