Em homenagem ao Sr. Benjamin
Netanyahu, que autorizou a construção de três mil casas na parte Leste da
Cidade Santa e Cisjordânia, logo após a obtenção do reconhecimento da Palestina
como Estado observador não-membro da ONU, com o apoio de 138 Estados, entre os
quais Portugal. Como é óbvio, a pacificação da região não se alcança com
decisões que implicam a construção de mais colonatos. Pelo contrário, tais
decisões acirram mais ainda os ânimos da guerra e os ódios.
O que nos faz pensar que a esta
gente – sionistas conservadores do Likud e alguns fanáticos que julgam pertencer ao povo eleito de Deus - tem de ser recordada a sua posição, posição essa que, nem é
mais elevada nem é mais baixa do que a posição dos outros povos. Por outras
palavras, e para sermos mais exactos, não acreditamos em povos eleitos e abençoados
por Deus, ou qualquer deus que seja. Qualquer povo que seja. É claro que muito
admiramos Albert Einstein, George Steiner, Stefan Zweig, Hannan Arendt, Eric Hobsbawn,
Tony Judt e muitos outros judeus, mas tal admiração não implica que abandonemos
essa ideia de que é tão importante, como ser humano, por exemplo, tanto um bosquímano
como um judeu, aos supostos “olhos do Senhor”. Aliás, provavelmente a maioria
judeus, também não embarca nessa história.
Ainda assim, invocamos aqui uma
passagem de um texto de Peter Sloterdijk, que nos remete para outros tempos,
quando o orgulhoso e cínico domínio romano na região mostrava aos supostos
eleitos de Deus a sua posição naquela época.
Diz o filósofo Peter Sloterdijk:
«O peido, entendido como sinal, mostra que o baixo-ventre está em plena
acção e isso pode ter consequências fatais nas situações em que toda e qualquer
alusão às esferas desse género é absolutamente indesejada. Ernst Jünger notava
no seu Diário Parisiense sobre a leitura de uma passagem da Guerra dos Judeus
do historiador Flavius Josephus:
«Voltei a ir dar à passagem que descreve o início da agitação em
Jerusalém sob o governo de Cumano. Enquanto os Judeus se reuniam para a festa
do pão ázimo, os Romanos colocaram por sobre o pórtico do templo uma coorte a
fim de manter a multidão sob observação. Um dos soldados levantou o manto e,
voltando com uma reverência irónica o posterior para os Judeus, «emitiu um som
indecente correspondente à sua posição». Foi motivo de um conflito que custou a
vida a dez mil homens, de modo que podemos falar do peido mais funesto da
história universal.» (Strahlungen, II, pp. 188-189)
O cinismo do soldado romano, que se peidou de forma politicamente
provocatória e «blasfematória» no Templo, tem um paralelo no comentário de
Jünger que faz a transição para o domínio do cinismo teórico.»
Peter Sloterdijk, Crítica da Razão Cínica, Relógio D’Água,
2011, p. 203.