“Hoje em dia, em muitos aspectos, Bucareste pode parecer apenas parcial
e vagamente europeia, mas precisamente por essa razão, e por causa das cada vez
mais óbvias qualidades não-europeias da ruralidade romena remota, parte da sua intelligentsia, tal como a de Belgrado, sempre tentou
associar-se ao Ocidente, em especial à França, como acto de desafio contra a
natureza estranha do seu ambiente interno. O resultado tem sido, muitas vezes,
o suscitar do hipernacionalismo entre outros intelectuais locais e afastar
ainda mais a elite cosmopolita das massas populares. Também este é um padrão caracteristicamente
«europeu».”
Tony Judt, Uma Grande Ilusão? Um ensaio sobre a Europa.
Edições 70. 2012 P. 65
Também nós tivemos os nossos estrangeirados
- intelectuais cosmopolitas -, alguns repelidos pelo provincianismo local,
outros, privilegiados, foram ver o mundo lá fora e regressaram, e tornaram-se
tão ou mais provincianos que os ditos “provincianos”. Entre os repelidos temos Agostinho
da Silva, José Saramago, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, etc. Foram rechaçados
pelo nosso provincianismo e ficaram a olhar para nós, e por nós, lá de fora.
Amavam e amam Portugal, mais do que os regressados. Destes, os que retornaram
ao seio dos “indígenas” e que desprezam o país natal até às vísceras, nem vamos
falar. E depois temos ainda os que sempre cá estiveram, os “provincianos” que
sempre amaram o seu país e nem precisaram de ir mais além. Afinal sempre é possível
ir a Índia e voltar, sem abandonar Portugal. Há quem considere estes
verdadeiros patriotas, nacionalistas parolos…, mas sabemos que não é bem assim.
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