Há algum tempo atrás, nos idos de
2008, Vasco Pulido Valente (VPV) anunciava no Público que vivíamos numa Era
onde as ideologias já não tinham lugar. Em curtas palavras, lembrava-nos a
morte das ideologias. Esqueceu-se porém da ideologia dominante, nascida das
cinzas das lutas ideológicas: o neoliberalismo (sabemos que muitos não
ousam qualificá-lo como uma ideologia, preferindo chamar-lhe doutrina, enfim um
anexo do capitalismo ou uma forma de capitalismo tardio, mais agressiva e
invasora). O neoliberalismo emergiu das cinzas do fim do conflito entre o
comunismo, enquanto projecto alternativo, e o capitalismo (*) e passou a dominar o mundo, embora tivesse de arrumar primeiro com a
social-democracia e com o welfare state,
que ainda resiste nalguns bastiões. O neoliberalismo não deve ser confundido
com o antigo liberalismo. O neoliberalismo é aquilo em que o capitalismo
dominante, tardio e vencedor, se tornou ou se transmutou. Depois da implosão do
comunismo soviético, que por milagre lhe saiu da frente, foi a social-democracia o
próximo alvo a abater.
Vasco Pulido Valente (VPV) não
era um intelectual provinciano, pelo contrário, pertencia a uma elite
cosmopolita pois era um daqueles que tinha "um olho em terra de
cegos": “estudou” lá fora, andou pelas terras de Oxford. Ora nesse tempo
do “orgulhosamente sós”, esses intelectuais cosmopolitas, arredados da
"piolheira" e afastados das massas populares (dos "indígenas", da "populaça"), tinham o privilégio de
trazer ideias novas e frescas do exterior. Os intelectuais provincianos, esses
nacionalistas, foram os que ficaram (não por acaso, Maria Filomena Mónica, outra intelectual da outrora elite cosmopolita, agora tornada provinciana, considera “parolo” o actual nacionalismo - pode sê-lo, mas não o é o patriotismo). Mas a verdade é que VPV deve andar há muito
arredado do que se escreve e debate na Academia. O homem provincianizou-se, só pode, porque se atentasse, por exemplo, no que actualmente escrevem os académicos britânicos e norte-americanos, entre outros, em particular na área das Ciências Sociais e das Humanidades, facilmente verificaria que o
neoliberalismo é um conceito corrente, não só entre os radicais de esquerda.
Que saia mais do Gambrinus e que vá ver o mundo.
É que o mundo mudou!
(*) Quando o
comunismo soviético começou a decair nos anos 80.