sexta-feira, dezembro 21, 2012

Inverno de Portugal


Inverno,
Eterno inferno.

E se te disser que folheei as Poesias Completas
d’O’Neill à procura da palavra “Inverno” para
escrever um poema neste mural e não encontrei?

Seria muito a propósito, não?
Hoje, no dia do solstício de Inverno…
Que pretensão a minha, querer escrever
um poema de O’Neill, sem o conhecer.

Inferno,
Eterno Inverno

O’Neill não era dado a contemplar os céus,
Quanto mais as celestiais estações.
Preferia esgueirar-se por entre as gotas de chuva,
fosse Inverno, fosse Verão.

O’Neill era de Lisboa, e os de Lisboa não são muito dados a olhar o céu,
Excepto os poetas e os loucos.
Todo o movimento nos desvia o olhar.
É preciso estar atento, nas cidades, em particular.
Mas O’Neill não só era de Lisboa, como era poeta.

O’Neill estava atento.
Atentava, porém, em tudo o que se movia, em tudo o que se mexia.
Escapou-lhe o Inverno.
Ou escapou-me a mim, na sua completa poesia.

Mas por que diabo O’Neill se haveria de preocupar com o Inverno, esse lugar-comum?
Esse Inverno de Portugal?

Inverno suave,
Ditoso Inverno, sempiterno Inverno.

Os gélidos dias partirão: adeus!
Até à Primavera,
Até ao Verão.

                                             AMCD

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