Inverno,
Eterno inferno.
E se te disser que folheei as Poesias Completas
d’O’Neill à procura da palavra “Inverno” para
escrever um poema neste mural e não encontrei?
Seria muito a propósito, não?
Hoje, no dia do solstício de Inverno…
Que pretensão a minha, querer escrever
um poema de O’Neill, sem o conhecer.
Inferno,
Eterno Inverno
O’Neill não era dado a contemplar os céus,
Quanto mais as celestiais estações.
Preferia esgueirar-se por entre as gotas de chuva,
fosse Inverno, fosse Verão.
O’Neill era de Lisboa, e os de Lisboa não são muito dados a
olhar o céu,
Excepto os poetas e os loucos.
Todo o movimento nos desvia o olhar.
É preciso estar atento, nas cidades, em particular.
Mas O’Neill não só era de Lisboa, como era poeta.
O’Neill estava atento.
Atentava, porém, em tudo o que se movia, em tudo o que se mexia.
Escapou-lhe o Inverno.
Ou escapou-me a mim, na sua completa poesia.
Mas por que diabo O’Neill se haveria de preocupar com o
Inverno, esse lugar-comum?
Esse Inverno de Portugal?
Inverno suave,
Ditoso Inverno,
sempiterno Inverno.
Os gélidos dias partirão: adeus!
Até à Primavera,
Até ao Verão.
AMCD