Stiglitz vem lembrar-nos, na sua
crónica do Expresso (9-02-2013), que os
países da Zona Euro ainda não ultrapassaram o impasse em que estão metidos
quanto à sobrevivência da moeda única a longo prazo. Que a “jogada de Draghi” foi isso mesmo, uma jogada, mas nada a isenta que
seja um bluff. Pelo menos permitiu
criar uma ilusão de segurança entre os investidores, suspensos que ficaram nas
suas palavras, e entre os países intervencionados, cujos governantes já
vislumbravam luzes ao fundo do túnel. Mas na actual conjuntura a confiança é
coisa que não dura, principalmente quando a garantia são apenas
palavras, mesmo sendo as de Draghi. É óbvio que, mais tarde ou mais cedo,
Draghi e o BCE vão ser postos à prova. Os investidores, ou os mercados, vão
querer saber até que ponto Draghi e o BCE vão efectivamente cobrir a parada.
Eis o excerto da crónica de
Stiglitz (os realces são nossos):
«Mas a maior parte dos que estiveram em Davos puseram estes problemas de
parte [os ganhos de produção industrial na China, devido à automatização de
processos que destroem postos de trabalho e o desemprego jovem prolongado], para celebrar a sobrevivência do euro. A nota
dominante foi de complacência — ou mesmo de otimismo. A “jogada de Draghi” — a noção de que o Banco Central Europeu, com a sua
disponibilidade financeira, poderia fazer e faria o que fosse necessário para
salvar o euro e cada um dos países em crise — parece ter funcionado, pelo menos
por uns tempos. A calma temporária forneceu algum apoio aos que
afirmavam que o que era necessário, acima de tudo, era uma restauração da
confiança. A esperança era de que as promessas de Draghi fossem um modo sem custos
de fornecer essa confiança, porque nunca teriam de ser cumpridas.
Os críticos salientaram repetidamente que as contradições fundamentais não tinham sido resolvidas, e que se
era suposto que o euro sobrevivesse no longo prazo, deveria ser criada uma união fiscal e bancária, o que obrigaria
a um nível de unificação política superior
ao que a maioria dos europeus está disposta a aceitar.»
Joseph Stiglitz, “Pensamento
não Convencional”, Expresso, 9 de Fevereiro
de 2013
Em suma: continuamos a meio da
ponte – à nossa frente está essa “unificação política” para a qual não queremos
avançar; atrás de nós temos o regresso às moedas nacionais o que implicaria a
desintegração do Euro, projecto que para já, não queremos abandonar.
Com mais confiança ou com menos
confiança, permanecemos ainda no meio da ponte. Estacados, sem dar um passo, com
medo do futuro e do passado, num presente precário e paralisado.
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