Quando o cardo
floresce e a sonora cigarra,
pousada na árvore,
espalha o melodioso canto,
pela fricção das asas,
na penosa estação do calor
nessa altura são mais
gordas as cabras e o vinho melhor,
mais ardentes as
mulheres e moles os homens;
Sírius abrasa-lhes a
cabeça e os joelhos,
fica-lhes ressequida a
pele pelo calor. É tempo então
de gozar a sombra de
uma rocha, o vinho biblino,
um pão quente de
qualidade, leite de cabra que já não amamenta,
carne de vitela
apascentada nos bosques, que ainda não pariu,
e de cabritos tenros.
Bebe então o vinho rubro,
sentado à sombra,
saciado o coração com o festim,
o rosto voltado de
frente para a frescura do Zéfiro;
e de uma fonte que
corre perene e límpida,
deita três partes de
água e a quarta de vinho.
Ordena aos escravos que o trigo sagrado de Deméter
arejem, logo que desponte
a força de Oríon,
em lugar bem ventilado e em eira redonda.
Hesíodo, Trabalhos e
Dias
in Pinheiro, Ana Elias (trad.), Ferreira, José Ribeiro (trad.),
Teogonia;Trabalhos e Dias, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2005,
pp. 114-115
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