sábado, maio 03, 2014

No meridiano

«Se Deus fizesse tenções de corrigir a degenerescência da humanidade não o teria feito já? Os lobos eliminam as suas crias mais fracas, homem. Que outra criatura seria capaz disso? E a raça humana não é ainda mais rapace? As leis naturais mandam germinar, dar flor e fenecer, mas nos afazeres dos homens não há declínio e o meio-dia da sua expressão assinala o começo da noite. A alma humana fica exaurida no ponto culminante das suas façanhas. O seu meridiano é a um tempo o início das trevas e o declinar do seu dia. O ser humano gosta de jogos? Pois que jogue a valer. Isto que vocês aqui vêem, estas ruínas que as tribos de selvagens tanto admiram, não vos parece que vai repetir-se? Vai, sim. Vezes sem conta. Com outros povos, com outros filhos.»


Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue, Biblioteca Sábado, 2008, pág. 126.
(os destaques são nossos)

Efeito Ozymândias.

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