O livro de J. Rentes de Carvalho,
Portugal, A Flor e a Foice, projecta uma luz de holofote sobre um período
histórico, que agora alguns querem branquear em novas historiografias. Ao lê-lo
tudo fica mais claro. Escrito em cima dos acontecimentos, mas em dois espaços
diferentes, Portugal e Holanda, o que lhe confere quase simultaneamente a
proximidade e a distância necessárias a uma visão clara, livre de contaminações
revisionistas, não se coíbe de chamar os bois pelos nomes. Ao contrário de uma
certa História de Portugal que por aí foi contada em fascículos – refiro-me
àquela que foi coordenada por Rui Ramos e companhia -, em que não se ousa
chamar ao Estado Novo de Salazar, aquilo que ele realmente foi, um regime
fascista, Rentes coloca-os – a Salazar e ao estado Novo - no seu devido lugar,
entre os regimes fascistas europeus. Finda a leitura, o sentimento é de
gratidão para com o homem, pela leitura prazerosa e por clarificar em momento oportuno o que muitos por
aí nos querem ocultar ou confundir, trocando as voltas à história.
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O general António de Spínola,
primeiro presidente da IIIª República, lutou na Guerra Civil de Espanha ao lado
dos franquistas, como voluntário, e esteve ao lado dos nazis, com as tropas
alemãs do general Von Paulus, em Estalinegrado. É caso para dizer “Herr von
Spínola”, como lhe chama Rentes, num capítulo que lhe é dedicado. Não deixa de
ser uma ironia que o primeiro presidente após o 25 de Abril de 1974 tenha
estado com os nazis e com os franquistas, num dos períodos mais negros na
história da Europa e do mundo.