Foi presciente John Kenneth
Galbraith quando disse um dia que
“a grande dialéctica do nosso tempo não é, como antigamente se supunha e alguns ainda supõem, entre o capital e o trabalho, mas entre a empresa e o Estado.”
Hoje, para cúmulo, temos alguns “lacaios” das “empresas” metidos no
governo dos Estados. O seu comportamento é como o de um vírus ou de um cavalo
de tróia. Uma vez no governo dos Estados, começam por retirar espaço à acção dos
próprios Estados, para que as empresas que servem possam conquistar esses mesmos espaços, que
se constituem afinal como novos mercados, novos prados, sempre cobiçados pelo
olho gordo da grande empresa capitalista (ou pelos chineses, diga-se de
passagem, tão arreliados que ficaram por não poderem comprar o porto do Pireu).
Esses espaços do Estado a que me
refiro, mais não são do que serviços sociais públicos, sectores inteiros, que antes de
mais, para essa gente, é preciso desmantelar e retirá-los do âmbito do Estado para os entregar às empresas privadas. É isso que querem
dizer com “reformas estruturais”. As “reformas estruturais”, para esta
gente, passam pela privatização de cobiçados sectores públicos, e pela sua "devolução" à economia, dizem eles. Que é preciso tirar o Estado da economia, acreditam
eles. Mas para tal, só o conseguirão, antes de mais, desacreditando o
funcionamento dos serviços públicos aos olhos dos cidadãos (pois mal irá a
Saúde, quando os cidadãos deixarem de acreditar no Serviço Nacional de Saúde, mal irá a Educação pública, quando os cidadãos deixarem de acreditar no
Ensino prestado na escola pública, mal irão os sistemas de transporte públicos,
quando os cidadãos deixarem de acreditar nos seus serviços…e assim
sucessivamente…e até a democracia, mal irá, quando se deixar de acreditar nela).
Então, estes sacerdotes fundamentalistas do Mercado, mal disfarçados de democratas, actuam diariamente
para desacreditar e desvalorizar os serviços públicos. Ele é escolas, hospitais,
transportes… Desinvestem! Que não há dinheiro para essas coisas.
Nunca a carga fiscal sobre as
famílias foi tão elevada, para uma tão grande degradação dos serviços públicos.
Nunca se pagou tanto em impostos, sem que tal pagamento se revelasse numa
qualquer melhoria dos serviços públicos prestados. Pelo contrário,
assistimos ao caos nas urgências dos hospitais, nas escolas, (onde já é visível
a falta de pessoal auxiliar), nos tribunais, nas esquadras, nas prisões, nos apoios sociais aos mais pobres, e despedem-se funcionários públicos, gente a abater, selectivamente enviados para “campos de requalificação”, ante-câmaras
do desemprego.
Não fossem as resistências e a boa fé da
população e de uma certa sociedade civil, já a Educação e a Saúde teriam saído
quase integralmente do âmbito do Estado (já quanto aos transportes, para lá se
caminha, com as anunciadas privatizações, acrescendo às já realizadas).
Mas enquanto tal não se fizer,
não se calarão as vozes dos que nos massacram e infernizam com a insistência nas tais “reformas estruturais”.
Vem tudo isto a propósito da
afirmação do Sr. Primeiro-ministro,
que assume “o compromisso de honra” em baixar o IRC. O IRC! Já não se compromete honrosamente o Sr. Primeiro-ministro
em baixar o IVA ou o IRS. Não! Compromete-se em baixar o IRC! Mais uma vez o
IRC! São as empresas, senhores, são as empresas.
Fosse o mundo governado como se
de uma empresa se tratasse, então tudo estaria melhor. É nisto que esta gente acredita.