domingo, fevereiro 01, 2015

São as empresas, senhores, são as empresas.

Foi presciente John Kenneth Galbraith quando disse um dia que a grande dialéctica do nosso tempo não é, como antigamente se supunha e alguns ainda supõem, entre o capital e o trabalho, mas entre a empresa e o Estado.” Hoje, para cúmulo, temos alguns “lacaios” das “empresas” metidos no governo dos Estados. O seu comportamento é como o de um vírus ou de um cavalo de tróia. Uma vez no governo dos Estados, começam por retirar espaço à acção dos próprios Estados, para que as empresas que servem possam conquistar esses mesmos espaços, que se constituem afinal como novos mercados, novos prados, sempre cobiçados pelo olho gordo da grande empresa capitalista (ou pelos chineses, diga-se de passagem, tão arreliados que ficaram por não poderem comprar o porto do Pireu).

Esses espaços do Estado a que me refiro, mais não são do que serviços sociais públicos, sectores inteiros, que antes de mais, para essa gente, é preciso desmantelar e retirá-los do âmbito do Estado para os entregar às empresas privadas. É isso que querem dizer com “reformas estruturais”. As “reformas estruturais”, para esta gente, passam pela privatização de cobiçados sectores públicos, e pela sua "devolução" à economia, dizem eles. Que é preciso tirar o Estado da economia, acreditam eles. Mas para tal, só o conseguirão, antes de mais, desacreditando o funcionamento dos serviços públicos aos olhos dos cidadãos (pois mal irá a Saúde, quando os cidadãos deixarem de acreditar no Serviço Nacional de Saúde, mal irá a Educação pública, quando os cidadãos deixarem de acreditar no Ensino prestado na escola pública, mal irão os sistemas de transporte públicos, quando os cidadãos deixarem de acreditar nos seus serviços…e assim sucessivamente…e até a democracia, mal irá, quando se deixar de acreditar nela). Então, estes sacerdotes fundamentalistas do Mercado, mal disfarçados de democratas, actuam diariamente para desacreditar e desvalorizar os serviços públicos. Ele é escolas, hospitais, transportes… Desinvestem! Que não há dinheiro para essas coisas.

Nunca a carga fiscal sobre as famílias foi tão elevada, para uma tão grande degradação dos serviços públicos. Nunca se pagou tanto em impostos, sem que tal pagamento se revelasse numa qualquer melhoria dos serviços públicos prestados. Pelo contrário, assistimos ao caos nas urgências dos hospitais, nas escolas, (onde já é visível a falta de pessoal auxiliar), nos tribunais, nas esquadras, nas prisões, nos apoios sociais aos mais pobres, e despedem-se funcionários públicos, gente a abater, selectivamente enviados para “campos de requalificação”, ante-câmaras do desemprego.

Não fossem as resistências e a boa fé da população e de uma certa sociedade civil, já a Educação e a Saúde teriam saído quase integralmente do âmbito do Estado (já quanto aos transportes, para lá se caminha, com as anunciadas privatizações, acrescendo às já realizadas).

Mas enquanto tal não se fizer, não se calarão as vozes dos que nos massacram e infernizam com a insistência nas tais “reformas estruturais”.

Vem tudo isto a propósito da afirmação do Sr. Primeiro-ministro, que assume “o compromisso de honra” em baixar o IRC. O IRC! Já não se compromete honrosamente o Sr. Primeiro-ministro em baixar o IVA ou o IRS. Não! Compromete-se em baixar o IRC! Mais uma vez o IRC! São as empresas, senhores, são as empresas.

Fosse o mundo governado como se de uma empresa se tratasse, então tudo estaria melhor. É nisto que esta gente acredita.

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