sábado, junho 27, 2015

Nem espada, nem parede: democracia!

Tsipras, confrontado com as ingerências e pressões intoleráveis da parte das instituições europeias neoliberais, opta pelo caminho democrático: convoca o referendo. Nem disse sim às imposições (a parede), nem disse não (a espada). Respondeu às instituições não democráticas com democracia: o povo grego que escolha o seu destino.

Face a este inesperado balde cheio de democracia pela cabeça abaixo, como reagem os responsáveis do Eurogrupo? Reagem mal. Instituições pós-democráticas têm dificuldade em lidar com soluções democráticas.

Definitivamente, esta União Europeia não é a minha União Europeia.

terça-feira, junho 23, 2015

Sobre o jihadismo

«Olivier Roy tem defendido de forma brilhante e persuasiva, que os jihadistas contemporâneos não podem ser compreendidos principalmente em termos culturais ou religiosos. A religiosidade muçulmana genuína tem sempre estado implantada numa cultura local ou nacional, onde a doutrina religiosa universalista é modificada pela aposição dos costumes, hábitos, santos e afins locais, e apoiada pelas autoridades políticas regionais. Não é este tipo de religiosidade que constitui a raiz do terrorismo dos nossos dias. O islamismo e os seus rebentos jihadistas são o produto daquilo que Rot chama Islão «desterritorializado», no qual os muçulmanos individuais se vêem isolados das tradições locais autênticas, muitas vezes como minorias em terras não-muçulmanas. Isto explica o porquê de tantos jihadistas não serem oriundos do Médio Oriente, mas sim criados (como Mohamed Atta um dos conspiradores do 11 de Setembro) na Europa Ocidental. O jihadismo é, por conseguinte, não uma tentativa de restaurar uma forma originária de islamismo genuíno, mas uma tentativa de criar uma nova doutrina universalista, que possa ser fonte de identidade dentro do contexto do mundo moderno, globalizado e multicultural.»

Francis Fukuyama, Depois dos Neoconservadores - A América numa Encruzilhada, Gradiva, 2006, pág. 67-68.

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sábado, junho 20, 2015

A espada

Entre a espada e a parede, Tsipras parece ter escolhido a espada, e já a brande. Veremos o que fará no último momento.

Ontem em São Petersburgo:




E noutra ocasião, em Maio:

Capisce?

sexta-feira, junho 19, 2015

Pós-política, pós-democracia

O desaparecimento da política é um dos aspectos mais salientes do pensamento moderno e tem muito a ver com a nossa prática política. A política tende a desaparecer quer no subpolítico (economia) quer no que se clama ser mais elevado do que a política (a cultura) – ambos dando azo à arte arquitectónica, à prudência do homem de estado.
Allan Bloom, A Cultura Inculta, 2ª ed., Europa-América, 1989, pág. 184

Sagaz, Allan Bloom notava em 1987 uma tendência que marcava a América e que entretanto alastrou ao planeta inteiro: trata-se do desaparecimento da política. A economia venceu ao ponto de dominar toda a esfera política. Esta actualmente reduz-se apenas à economia e à finança, que tudo condicionam. O crescimento económico passou a ser o desígnio universal e único - não há país no mundo que não o ambicione.

Já não vivemos num período democrático. A liberdade dos povos para escolher caminhos deixou de existir. Já só existe o caminho assinalado pela economia e pela finança. Vivemos tempos de ditadura económica e financeira. Se não acreditam, perguntem aos actuais gregos.

sexta-feira, junho 12, 2015

Um homem não é um homem: é capital humano.

Gostei muito desta pequena animação no blog do Francisco Oneto. Chama-se "Emprego". O Francisco chamou-lhe, ironicamente, "Capital Humano". É claro que se trata de uma crítica e convoca-nos à reflexão.

Nesta novilíngua neoliberal tudo se converte em mercadoria. Tudo se converte em capital. Capital humano, capital social, capital natural... Aos olhos desta gente tudo é um meio de produção ou de "riqueza", ou de produção de riqueza.

Quando olham o mar não vêem o mar: veem um potencial de riqueza e exploração. Quando olham uma floresta, não veem uma floresta: veem árvores das patacas a florirem notas. E na sua visão, um homem, não é um homem. É um meio de produção. Capital humano.

Eis o maravilhoso mundo novo do empreendedor neoliberal.

Gostei muito do pequeno filme.

quarta-feira, junho 10, 2015

Fogo Grego


Foi a grande aquisição na Feira do Livro deste ano. Já o tinha requisitado e lido na biblioteca municipal, mas vê-lo ali entre as pechinchas, novo, capa dura, primeira edição, ilustrada e a cores... Não resisti.

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Após o saque de Roma pelo visigodo Alarico, em 410, o século seguinte assistiu ao colapso do mundo romano clássico. O fogo da Grécia antiga tinha-se extinguido na metade ocidental da Europa. Está muito mais vivo em 1989 do que estava em 989.

Olivier Taplin, Fogo Grego, Gradiva. 1ª ed. 1990. pág. 16

Maersk Majestic


Cargueiros colossais sulcam os mares com tripulações mínimas. Os seus contentores empilhados acomodam mercadorias produzidas nas fábricas do mundo, quase todas na China.


Entre o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo, no canal do Suez.

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