As palavras realçadas no último post, que não são as minhas, são evidentemente uma provocação que convocam
a uma reflexão. Ainda assim, como disse, gostei de as ler.
Onde está a provocação?
No paternalismo implícito na
expressão “civilizar o Islão”. O que significa isso? Poder-se-á civilizar uma
civilização? O Islão não é apenas uma religião, é uma civilização; um espaço
civilizacional que se estende desde a costa da Mauritânia aos confins das ilhas
da Indonésia. Quererá dizer “civilizar o Islão” o mesmo que “ocidentalizar o
Islão”? Ora nem o Islão quer ser ocidentalizado, da mesma forma que o Ocidente não
quer ser islamizado.
Outra provocação: comparar o
Alcorão ao “Mein Kampf”. Esta consideração
leva-nos a associar o islamismo ao nazismo. Ora nem o islamismo é o nazismo,
nem o Alcorão é o Mein Kampf. O “Mein Kampf” escrito por Hitler, como se
sabe, é um livro maldito e proibido em muitos países e o nazismo foi, nos
espaços onde vingou, alvo de um processo de desnazificação. Defenderão os que
comparam o Alcorão ao “Mein Kampf”
uma desislamização do mundo?
Contudo, e dito isto, constatamos
ainda assim que algo “cheira mal, muito mal, neste Reino da Dinamarca”.
O Islão constitui um solo fértil para o
florescimento de ervas daninhas, venenosas e nocivas. Numa palavra, assassinas,
ainda que brotem no meio das boas culturas. Naquele rebanho de ovelhas inocentes
escondem-se lobos pontuais, belicosos, conflituosos e terroristas. E existem
também inocentes ovelhas que de um momento para o outro, sem se saber lá muito
bem porquê, se transmutam em lobos assassinos. Um pesadelo para as sociedades
que os albergam, e em primeiro lugar, para os próprios muçulmanos nas
sociedades islâmicas, que constituem o grupo mais numeroso de vítimas do
terrorismo. Alguns dirão que muitos dos maiores atentados foram preparados e
perpetrados por grupos terroristas instalados no seio das próprias civilizações
que os acolhiam ou onde cresceram. Não foi isso que ocorreu com os atentados de
2001, por exemplo? Não nos equivoquemos: os islamitas vivem de acordo com os
seus próprios preceitos independentemente da civilização que os acolha. Nem
podia ser de outra forma. É como se o solo que os nutre tivesse sido transportado
para o meio de outro. O solo onde medram é sempre o solo do Islão, ainda que o
lugar seja em França ou no Reino Unido, por exemplo.
Parece no entanto que Samuel Huntington
se enganou. Não há uma guerra de civilizações. O que se constata é que existe
uma civilização que manifesta sérias dificuldades de convivência - chamemos-lhe
assim - com as demais. Nas linhas de contacto entre essa civilização e as
outras verificam-se atritos belicosos. O rol é extensíssimo: no Mali, islâmicos
no Norte, animistas no Sul; na Nigéria, no Camarões, entre o Sudão e o Sudão do
Sul, entre Israel e a Palestina, entre os ortodoxos russos e os islamitas da Chechénia,
entre os islâmicos do Kosovo e os ortodoxos da Sérvia, entre hindus e
muçulmanos em Caxemira, e até os chineses de Xinjiag se debatem com terroristas
muçulmanos nesse território, isto só para mencionar algumas linhas de contacto
civilizacional. Muitas outros atritos se verificam, até entre sunitas e xiitas
ou entre cristãos e muçulmanos. E quando não são linhas de contacto civilizacionais
são bolsas no seio de civilizações que os acolhem ou onde crescem, que se
tornam em pontos quentes, como é o caso de França, com os seus seis milhões de muçulmanos e a sua capital, Paris. Quer gostemos ou não, estes são os factos.
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