Don Delillo, Zero K, Sextante, 2016, pág. 264
Delillo caminha pelas cidades, de
mãos nos bolsos, ensimesmado, de olhos postos no passeio onde grassa a merda de
cão. Leio noutro lugar que os animais domésticos superam já os animais selvagens (*),
em número e em massa (omite o narrador, por certo, os insectos, nessa assumpção
desesperante). Triste humanidade, rendida a uma natureza artificial que ela
mesma criou. Homo Deus nos tornámos!
Um pesadelo! Há seres humanos em excesso à superfície da Terra e animais
domésticos também. O próprio Homem é já um animal doméstico. E ainda há quem defenda
a paródia do Humanismo - esse ser prodigioso que é o Homem - mesmo depois de
constatar todo mal que o homem (sim, com letra pequena!) faz a si mesmo e toda a destruição que inflige no
jardim que lhe foi legado. Sim, venham de lá agora dizer que este discurso apoia a acção de genocidas que se entretêm a erradicar seres humanos da face Terra.
Não se trata disso. Para melhorar o mundo, não tenhamos dúvidas, o primeiro
passo é erradicar os genocidas.
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(*) Yuval Harari, Homo Deus: A Brief History of Tomorrow, Harper Collins Publishers,
2016
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