Todos sabemos que a lagarta se metamorfoseará numa borboleta. Mas a
lagarta saberá isso? Esta é a pergunta que temos de fazer aos profetas da
catástrofe. São como as lagartas no casulo da mundivisão da sua existência de
lagarta, inconscientes da sua metamorfose iminente. São incapazes de distinguir
entre a decadência e a mudança para uma coisa diferente. Veem a destruição do
mundo e dos seus valores, embora não seja o mundo que está a perecer, mas a
imagem que têm do mundo.
Ulrich Beck, A Metamorfose do Mundo, Edições 70,
2017, pág. 30
Um novo mundo é possível?! Que
interessa isso agora? Agora é tarde. Os portões saíram dos seus gonzos. Um novo
mundo é já inevitável! Quer queiramos quer não. A metamorfose do mundo está em
curso. O que daí virá? Um admirável mundo novo? Talvez. Um mundo distópico? Não
sabemos. Não será por certo um mundo em que os amanhãs cantam. Por certo será um
mundo que não esperamos e do qual nem suspeitamos. Um mundo distante, muito distante
desse mundo desejável pelos que proclamavam a possibilidade de um novo mundo,
diferente do que nos impunha a globalização capitalista.
Ulrich Beck morreu. Só o soube, para grande surpresa minha, quando
adquiri este seu novo livro póstumo: A
Metamorfose do Mundo. Julgava-o vivo. Outro mestre que partiu, já há dois
anos. Vive no entanto na sua obra e no pensamento que dela ecoa.
Até sempre Ulrich Beck.
***
Novas costas delinear-se-ão. Ilhas e porções de terra hoje emersas ficarão submersas, assim
como as áreas baixas das cidades e as baixas das cidades. Populações procurarão
refúgio noutros lugares, espécies perecerão com o desaparecimento dos seus habitats e tempestades cada vez mais violentas
varrerão os céus, a terra e os mares. Vinhedos, oliveiras e palmeiras surgirão noutros
horizontes, mais para o norte e mais para o sul e certos insectos transmissores
de doenças alastrarão também, assim como os desertos que já cobrem um terço da
superfície da área continental planetária. Oceanos nunca antes navegados por veleiros serão atravessados por esses barcos de lés a lés. Os corais branqueiam-se e morrem,
como já se anuncia, e muitas espécies perecerão numa já anunciada sexta extinção
em curso. Não obstante não é do Apocalipse segundo São João de que falamos. É de outra coisa. A metamorfose do mundo é também a nossa metamorfose, assim como a
da nossa visão do mundo. Virá um Homem novo. Um cyborg (já há quem por aí ande, merecidamente feliz, com um novo coração
artificial). Também isto é já parte do mundo novo.
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