sábado, novembro 25, 2017

Um poema de Alberto Pereira



Flores de ponta e mola.
Beijos calibre 6,35.
Foi assim que encostaste
o aço ao meu nome.

Guardo ainda num revólver
algumas árvores e pássaros,
o arrependimento de Raskólnikov
e as sinfonias de Stravinsky.

É já tempo de matar a eternidade.

Tenho a mais bela pólvora do mundo.


(Poema de Alberto Pereira, Viagem à Demência dos Pássaros, Glaciar, 2017)

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Abri o livro e deparei com este poema. Fechei o livro e o poema perseguia-me na contracapa.

Bela pólvora a de Alberto Pereira: árvores, pássaros, o arrependimento de Raskólnikov e as sinfonias de Stravinsky. A mais bela pólvora do mundo.

sexta-feira, novembro 24, 2017

Pedro Rolo Duarte (1964-2017)

De Pedro Rolo Duarte pouco conhecia, para além da sua imagem, da sua voz e simpatia, as escolhas musicais num programa da Antena 1 chamado Hotel Babilónia, ao lado de João Gobern, e ainda o seu blogue. Nem sempre concordava com as suas opiniões, nem com os seus gostos musicais, mas partilhava da sua embirração com os que conduzem com um braço de fora ou com o cotovelo apoiado na janela do automóvel. Era uma voz familiar. A sua morte foi inesperada. Era um homem novo. Lamento a sua perda.

terça-feira, novembro 14, 2017

sábado, novembro 11, 2017

Conheci rios

O Negro Fala de Rios

Conheci rios
Conheci rios tão antigos como o mundo, mais velhos do
   que o sangue humano correndo nas veias humanas.
A minha alma foi-se tornando funda como os rios.

Banhei-me no Eufrates quando eram jovens as madrugadas.
Construí a minha cabana nas margens do Congo e ele embalou-me o sono.

Olhei o Nilo e acima dele ergui as pirâmides.
Ouvi o canto do Mississipi quando Abraham
   Lincoln desceu até Nova Orleães, e vi
   o seu fundo lamacento ficar todo dourado ao pôr-do-sol.

Conheci rios:
rios escuros, rios antigos.

A minha alma foi-se tornando funda como os rios.


                         (Langston Hughes, tradução de Ana Luísa Amaral, Antena 2)

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"The Negro Speaks of Rivers

I’ve known rivers:
I’ve known rivers ancient as the world and older
   than the flow of human blood in human veins.
My soul has grown deep like the rivers.

I bathed in the Euphrates when dawns were young.
I built my hut near the Congo and it lulled me to sleep.
I looked upon the Nile and raised the pyramids above it.
I heard the singing of the Mississippi when Abe
    Lincoln went down to New Orleans, and I’ve seen
    its muddy bosom turn all golden in the sunset.

I’ve known rivers:
Ancient, dusky rivers

My soul has grown deep like the rivers.


                                                               (Langston Hughes)

***

Sobre Langston Hughes, na Antena 2, aqui.


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