domingo, setembro 23, 2018

Steven Pinker: só o Iluminismo pode salvar-nos


Quando as predições sobre a apocalíptica escassez de recursos fracassam reiteradamente, temos de concluir que a humanidade escapou milagrosamente sucessivas vezes de uma morte certa, como um herói de um filme de acção de Hollywood, ou que há alguma falha no pensamento que predisse a apocalíptica escassez de recursos. A falha foi apontada em múltiplas ocasiões. A humanidade não sorve os recursos do planeta como uma palhinha num batido até que um borbulhar lhe diga que o recipiente está vazio. Em vez disso, quando as reservas de um recurso que se extrai facilmente começam a escassear, o seu preço sobe, levando mais gente a querer conservá-lo, a chegar a depósitos menos acessíveis ou a encontrar substitutos mais baratos e mais abundantes.

De facto, para começar, é uma falácia pensar que as pessoas «necessitam de recursos». Do que necessitam são formas de produzir alimentos, deslocar-se, iluminar as suas casas, exibir informações e outras fontes de bem -estar. Satisfazem estas necessidades com ideias: com receitas, fórmulas, técnicas, projectos e algoritmos para manipular o mundo físico a fim de que este lhes ofereça o que desejam. A mente humana, com a sua capacidade combinatória recursiva, pode explorar um espaço infinito de ideias e não se encontra limitada por nenhuma classe de material terrestre. Quando uma ideia deixa de funcionar, outra pode ocupar o seu lugar. Isto não desafia as leis da probabilidade, apenas lhe obedece.

É certo que esta maneira de pensar não encaixa bem com a ética da “sustentabilidade”. (…) A doutrina da sustentabilidade assume que o ritmo actual de utilização de um recurso pode ser extrapolado para o futuro até se atingir um tecto. A consequência que implica a dita assunção é que temos de trocar para um recurso renovável capaz de repor-se indefinidamente à medida que o vamos usando. Na realidade, as sociedades sempre abandonaram um recurso por outro melhor, muito antes que o velho se esgotasse. Com frequência se disse que a Idade da Pedra não terminou porque o mundo ficou sem pedras, e outro tanto cabe dizer da energia.

Steven Pinker (2018), Enlightenment, now!
[Tradução nossa]

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Pinker é um optimista. Tem fé na Razão, no Progresso, na Ciência e na Tecnologia. Tem fé nos valores do Iluminismo. Tem fé no Homem. Ao contrário de Heidegger, que diz que só um deus nos pode salvar, Pinker defende que o Homem pode salvar-se a si mesmo, caso se guie pelos valores do Iluminismo. A Razão, o Progresso, a Ciência e a Tecnologia poderão salvar-nos de qualquer apocalipse previamente anunciado, assim o Homem se empenhe e disso sinta necessidade, pois a necessidade aguça o engenho. O problema é que a Razão, o Progresso, a Ciência e a Tecnologia são facas de dois gumes, em que um cortará mais do que outro se forem perseguidos sem Ética. O Progresso pode ser a bomba atómica e à sua sombra, em tempos, defendeu-se o eugenismo, só para dar dois exemplos. Mas também é verdade que o Progresso evitou uma catástrofe malthusiana, salvando milhões da fome, permitiu à Humanidade conciliar procedimentos para evitar a depleção da camada de ozono, contribuiu para aumentar a esperança média de vida no mundo, para baixar a mortalidade infantil e para tratar e curar doenças no passado incuráveis. O Progresso contribuiu para diminuir o sofrimento humano. Pinker acredita em tudo isto, defendendo que hoje se sobrevaloriza o que é negativo, desde as alterações climáticas ao esgotamento dos recursos naturais e aos anúncios de extinção de espécies ou de uma sexta extinção em massa…e que se está a subvalorizar a capacidade humana de superação de problemas e obstáculos, mediante a Ciência e a Tecnologia, pelo Progresso.

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