domingo, outubro 13, 2019

Resultados eleitorais – uma nota

Fonte: MAI, 2019, consultado a 13/10/2019


Que alívio para a CDU. Já não precisa de ser bengala do PS, agora que a Direita não espreita na esquina mais próxima. Livrou-se desse papel-empecilho, dessa pedra no sapato que a impedia de caminhar livremente. Pode agora trilhar o seu caminho e regressar ao seu estado natural de coligação crítica dos disfuncionamentos da sociedade capitalista. Tal voz é necessária para que a sociedade corrija ou esteja atenta a certos resultados que vai gerando, em particular, quando se acentua o alargamento da desigualdade à sombra da liberdade, sempre mais livre para uns do que para outros. Liberdade para escolher, dizem os neoliberais, como se essa liberdade de escolha fosse igual para todos e como se tal desigualdade fosse sempre justa. Não é.


Os partidos que serviram de bengalas a partidos maiores, que não se demarcaram, sofreram perdas eleitorais. O CDS ainda está a pagar o preço de se ter submetido ao domínio do PSD durante os tempos da troika. Cristas foi governante nesse tempo e os portugueses não esquecem. O BE perdeu votos, dezenas de milhar. A CDU também e, dentro da CDU, os próprios Verdes que nunca se individualizaram, acabam por ver o seu espaço reivindicativo e ideológico invadido por partidos como o PAN ou o Partido da Terra. Os Verdes não protagonizaram o suficiente, como deviam, a causa ambiental, e não foram suficientemente mobilizadores num contexto social que lhes seria favorável, pois é marcado por uma crescente preocupação ambiental. Perderam identidade, se alguma vez a tiveram. Os que têm preocupações ambientais acabaram assim por canalizar o seu voto para os outros partidos da área, como o PAN, um partido de amantes de homeopatia, de cães, de gatos, de vegetarianistas e de vegans, de veterinários e proprietários de casas de animais. Em suma, ganhou o PAN (quadruplicou o seu número de deputados), mas também a Iniciativa Liberal, o Livre e o Chega.

O PS teve uma vitória de Pirro – não ganhou a maioria absoluta e perdeu a “geringonça”. Do PSD não rezará a história, remetido para a oposição por um período largo.

No entanto, é curioso constatar o silêncio daqueles que há quatro anos clamavam que o governo não duraria muito tempo e que agora se calam quando os sinais de instabilidade se podem avistar no horizonte. Estarão agora convencidos que o governo do PS tem condições para governar toda a legislatura? Estarão a dormir?

É curioso constatar também que muitos dizem que agora a contestação social vai começar, como se nos últimos quatro anos tivéssemos vivido em acalmia social.

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