Reapreciação: óóóó
(Já nos tínhamos referido a este livro, mas a leitura não estava concluída).
Leitura fluída e agradável. Boa tradução, se bem que o uso
de plebeísmos como “estrambótico” ou “endrominar”, na página 294, nos faça
torcer o nariz. Entre os liberais abordados, existem alguns conscientes da monstruosidade
que é o fundamentalismo de mercado e, pura e simplesmente, não vão por aí. É o
caso de Isaiah Berlin:
«Dito isto, temos de acrescentar
que, entre as várias correntes de pensamento que cabem dentro da aceção
«liberal», Isaiah Berlin não concordou totalmente com aqueles que, como
Friederich von Hayek ou Ludwig von Mises, veem no mercado livre a garantia do
progresso, não só do económico, mas também do político e cultural, o sistema
que pode harmonizar melhor a diversidade quase infinita de expetativas e
ambições humanas, dentro de uma ordem que salvaguarde a liberdade. Isaiah
Berlin albergou sempre dúvidas sociais-democratas sobre o laissez-faire e reiterou-as poucas semanas antes da sua morte, na
esplêndida entrevista – espécie de testamento – que concebeu a Steven Lukes,
repetindo que não conseguia defender sem alguma angústia a liberdade económica
ilimitada que “encheu de crianças as minas de carvão”». (pág. 264)
Até o liberalismo tem o seu
extremismo. E se Vargas Llosa alerta para as ideologias que fazem o apelo da
tribo em desfavor da liberdade do indivíduo, também é verdade que identifica
alguns pensadores que integram uma tribo ideológica à qual ele não se pode
furtar: a dos liberais. Dentro dessa tribo, há uma facção de fundamentalistas
de mercado que defendem a ideologia neoliberal com tal fanatismo que mais se
parecem com propaladores de uma nova fé.
Ora o neoliberalismo é o
liberalismo extremado e dos extremos nunca vem coisa boa. Levado ao extremo o
liberalismo devém num fundamentalismo de mercado, numa ideologia do egoísmo
sustentado na cobiça e na ganância. Ainda assim muitos liberais vêem no neoliberalismo uma coisa boa. É o caso de Mario Vargas Llosa.
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