Um excelente livro (
óóóó).
Desfeita foi essa ideia do humanismo grego que proclama o homem
como um ser prodigioso.
Foi Sófocles, na Antígona, que disse:
Muitos prodígios há; porém nenhum maior do que o homem.
Lido o livro, o prodigioso homem revela-se um exterminador,
um genocida, um agressor contra o ambiente que o ampara, contra a terra-mãe que
o gerou. Um horror!
O livro é muito bom, mas por vezes exaustivo, como por
exemplo no capítulo 8, sobre a linguagem humana, tornando-se enfadonho nesse
capítulo. Julgamos que o autor se deixou levar pela sua paixão pelas línguas.
Mas o livro ajuda-nos a perceber o momento que atravessamos e
alerta-nos para os horrores que estamos a desencadear: um holocausto ambiental
que terá repercussões na civilização humana e na vida do planeta que vão muito
para além dos malefícios causados pelo coronavírus que agora nos aflige.
E, muito importante, refere Jared Diamond, na página 269:
Finalmente, a maioria das principais
actuais doenças infecciosas e parasitas da humanidade não poderia ter-se
estabelecido antes da transição para a agricultura. Estes assassinos persistem
apenas em sociedades populosas, com má nutrição e sedentárias, constantemente
reinfectadas pelos outros e pelos próprios esgotos. A bactéria da cólera, por
exemplo, não sobrevive por muito tempo fora do corpo humano.
Jared Diamond, O
Terceiro Chimpanzé, 1993, pág. 268.
A bactéria da cólera não
sobrevive por muito tempo fora do corpo humano, tal como um vírus. E da
mesma forma que o campo de cultura fértil ideal para a eclosão de fenómenos bacteriológicos
e virológicos eram as sociedades populosas e poluídas da Era Agrícola,
pré-industrial, também hoje continuam a ser as áreas mais densamente povoadas e
poluídas como as cidades industriais do Oriente, da China, entre outras,
porque também as há noutros países e continentes, as áreas de onde continuam a brotar
esses assassinos microscópicos. Porém desse país mais populoso e densamente povoado,
que é a China, em particular nas suas regiões orientais e meridionais, advirão
outras ameaças, segundo o autor, que refere que a sua dimensão populacional e a sua economia asseguram que os problemas ambientais se transformarão
em problemas para o resto do mundo também. (Diamond, 1993 [posfácio à edição de 2006], pág. 515)
Será dessas regiões densamente povoadas e poluídas que advirão as maiores ameaças ambientais e microbiológicas para a Humanidade. Mas não haja ilusões – essas regiões não são ilhas e o que lá ocorre não é só da responsabilidade de quem lá vive. A globalização une-nos a todos, produtores e consumidores, seres humanos. Seremos todos responsáveis enquanto não se criarem instituições globais com capacidade para regulamentar e impor o respeito pelos direitos dos trabalhadores e garantir as suas condições de vida e o seu bem-estar, em todos os países do mundo.