A correr atrás da carruagem
um eco de patas a percorrer a melancolia
de as rodas serem mais velozes
que ossos rasgados rente ao sabugo
- correndo na sombra da caleche
ou do coche, o cão avança pelo medo acima
e dentro colados às janelas
os dois namorados de cimento e brisa
vêem o bicho das estepes e dos fumos
animal trinado (o som é a melhor besta!)
a beijar o pó, o púbis da terra
e quando o cão corre uma solidão doméstica
uma minúscula pátria egoísta
penico sentado, um cerco de bosta seca
- os dois húmidos namorados
vão à língua de cada um – rangendo –
e tornam-se a própria sombra em crueldade.
E aonde foi o cão? A angústia de armas que
ladra é um tapete voador com alma de Sade.
Fernando Grade (1990)
in Fernando Grade, O Livro do
Cão, Edições Mic, 1991.
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