segunda-feira, agosto 23, 2021

O tempo não nos vencerá

 

Michel Houellebecq, Intervenções, Alfaguara, 2021.


⭐⭐⭐⭐


Compreendeu por fim o que toda a gente à sua volta sabia: quando já não somos desejáveis, deixamos de ter o direito ao desejo.

Michel Houellebecq, Op. cit., pág. 119.

 

Sei agora que o tempo não nos vencerá.

 Michel Houellebecq, Op. cit., pág. 147.

 

Não me esquecerão necessariamente depressa, mas serei esquecido ainda assim.

 Michel Houellebecq, Op. cit., pág. 160.



****

Só não é esquecido quem não viveu.

 

Acabo sempre por ir dar ao poema de Alfonso Canales. O poema que encerra a Verdade. Um poema onde me refugio sempre que a ideia do esquecimento me assombra.

 

É escusado alimentar lamentos sobre o esquecimento a que um dia seremos votados. Ser lembrado não é importante. O importante é viver (preferencialmente sem sofrimento e sem fazer sofrer os outros). Lamentou-se também uma vez José Saramago, ou talvez não tenha sido um lamento, mas uma mera constatação, de que os seus livros um dia seriam esquecidos numa prateleira qualquer, assim como o seu nome. Bastariam umas décadas ou um século.

 

Na verdade, no fim, ou mesmo antes do fim, só o pó subsistirá. Pó das estrelas.

 

Mesmo assim, TEREMOS VIVIDO.

 

Não, o tempo não nos vencerá.

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