Richard Rogers (1933-2021) |
Um destes dias morreu o famoso arquitecto Richard Rogers e,
lamentavelmente, não tive tempo de postar uma homenagem, na hora, a esse grande
homem do qual conhecia tão pouco: o Domo do Milénio, em Londres e, mais antigo, o
Centro Georges Pompidou, em Paris, eram obras suas. Fiquei a saber há pouco.
Mas era outra a sua obra que me era familiar: o livro Cidades para um
Pequeno Planeta, da editora Gustavo Gili (GG), de 2001.
A criação da moderna cidade
compacta exige a rejeição do modelo de desenvolvimento monofuncional e a
predominância do automóvel. A questão é como pensar e planear cidades, onde as
comunidades prosperem e a mobilidade aumente, como buscar a mobilidade do cidadão,
sem permitir a destruição da vida comunitária pelo automóvel, além de como
intensificar o uso de sistemas eficientes de transporte e reequilibrar o uso
das nossas ruas em favor do pedestre e da comunidade.
Richard Rogers, op.
cit., pág. 38
Nitidamente, as preocupações de Richard Rogers eram a
prosperidade da comunidade, a mobilidade do cidadão, a vida comunitária, o uso
da rua em favor do pedestre e da comunidade. A comunidade, agora refugiada de
si mesma no automóvel, nos edifícios de escritórios, nos centros comerciais e
nos condomínios fechados. A comunidade fragmentada empobreceu a vida na cidade com
largos segmentos que a compõem a abandonarem a vida de rua, a vida na rua. A
vida saiu da rua. Passam por ali automóveis e, ocasionalmente, um pedestre.
Mas havia outras preocupações:
Acredito piamente na
importância da cidadania e na vitalidade e humanidade que ela estimula. A
cidadania manifesta-se em gestos cívicos planeados e de grande escala, mas
também em gestos espontâneos e de pequena escala. Juntos, eles criam a rica
diversidade da vida urbana.
Richard Rogers, op.
cit., pág. 15
A necessidade de promover a cidadania que se sente escapar
das nossas cidades com a perda de solidariedade e o avanço da indiferença.
Vivemos em sociedades de indiferença (já o disse o Papa) e os indiferentes
somos nós para com os quais os outros, os nossos concidadãos, se isso se lhes
pode chamar, também se manifestam indiferentes. E parecemos todos indiferentes
à nossa indiferença. Nem nos damos conta. Não somos apenas diferentes, somos
indiferentes, e nisso somos iguais. A indiferença é inimiga da diversidade. E
não há como escapar a isto. Como não poderíamos ser indiferentes aos que chegam
a clamar por refúgio e abrigo, e que procurarão chegar cada vez mais, se somos
indiferentes connosco?
Bem-vindos à cidade da indiferença, o que equivale dizer, à
sociedade da indiferença. Era, portanto, necessário, para Richard Rogers, reanimar
a cidadania nas ruas, nas cidades e nas sociedades, a cidadania em cuja
importância Richard Rogers acreditava piamente.
O padrão-anti social do
crescimento segmentado, causado por um desenvolvimento orientado apenas para o
lucro, mostrou-se inadequado às necessidades da cidade.
Richard Rogers, op.
cit., pág. 116.
Parece que não aprendemos nada.
Até sempre Richard Rogers.
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